domingo, 13 de maio de 2012

PORTFÓLIO - DRAMATURGIA/ROTEIRISTA - ZEN SALLES

ZEN SALLES

CURRÍCULO DESCRITIVO

APRESENTAÇÃO


Ezeniel Sales e Silva, que adotou o nome artístico de Zen Salles, é jornalista formado pela Universidade Federal do Maranhão e dramaturgo que, durante os anos de 2009 e 2010, foi aluno do Núcleo de Dramaturgia Sesi-British Council. Pororoca”, peça de sua autoria, foi a grande escolhida para montagem após um rigoroso processo seletivo incluindo mais de 200 textos teatrais, ficando em cartaz durante seis meses no Teatro do Sesi, em São Paulo, com direção do premiado diretor Sérgio Ferrara. Com “Pororoca”, recebe a indicação na categoria de Melhor Dramaturgo de 2010 pela Cooperativa Paulista de Teatro, onde concorreu, entre outros, com o grande mestre Luís Alberto de Abreu. Também é autor das peças “Agridoce", "Jet Lag”, “On $ALE” e “Bílis”, que participaram com grande sucesso das Satyrianas. E das inéditas “Charlotty e as suas Cores Fortes” e “As Cinzas Vulcânicas do Teu Cigarro Light”. Escreveu também “1, 26”, peça protagonizada pela atriz Bárbara Bruno e que participou do projeto Os Dez Dramaturgos no site Teatro Para Alguém. E “Siameses”, que fez parte do projeto Letras em Cena, realizado no Masp em 16 de agosto de 2010, com a participação dos atores Bertrand Duarte e João Signorelli. Fez parte da equipe de roteiristas da versão brasileira da série israelense “Be Tipul”, que nos Estados Unidos ganhou o nome de “In Treatment” e, no Brasil, se chama “Sessão de Terapia”, exibida no canal GNT e dirigida pelo renomado Selton Mello. Como roteirista de cinema e televisão, Zen Salles também participou de oficinas e seminários com os maiores nomes da área do cinema brasileiro, como Fernando Bonassi, Doc Comparato, Aimar Labaki e Bráulio Mantovani. Em teatro, fez cursos e workshops com os premiados diretores ingleses Max Kay e Daisy Campbell, além de Marici Salomão (dramaturga e coordenadora do Núcleo de Dramaturgia Sesi-British Council e coordenadora de dramaturgia da SP Escola de Teatro), e dos consagrados teatrólogos Clóvis Garcia, Chico Assis e Tereza Menezes. Mais informações sobre o autor Zen Salles na Enciclopédia do Teatro: http://www.spescoladeteatro.org.br/enciclopedia/index.php/Zen_Salles E-MAIL:
zencomentarios@yahoo.com.br
zensacional@hotmail.com


























sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

AGRIDOCE

"AGRIDOCE" foi apresentado pela primeira vez no dia 12 de Novembro, às 23h59, no Teatro dos Satyros 2, como parte da programação do DRAMAMIX das SATYRIANAS 2011.

DRAMATURGIA: Zen Salles

DIREÇÃO: Lucianno Maza

ELENCO: Gilda Nomacce & Clovys Torres

FOTOS: Ricardo Massaki


PERSONAGENS:
#XX
#XY




























XX – Te esperei tanto.

XY – As coisas não dependem só de mim. Eu só vim hoje porque me foi permitido.

XX – Por que eu estou presa nesse quarto escuro sem nenhuma janela? Por que eu estou assim, amarrada desse jeito, como se eu fosse uma...?

XY – Acredite em mim, meu bem! Se você está aqui dentro é porque não existe outra coisa melhor pra você agora.

XX – Às vezes, as paredes desse quarto se movem na minha direção, querem me triturar inteira. O que foi que eu fiz pra merecer essa tortura? Eu não me lembro! Juro que NÃO! Minha memória parece que anda fugindo de mim, minha cabeça tá se perdendo na escuridão.

XY – Um dia, quem sabe, as coisas fiquem claras e você finalmente consiga se lembrar de alguma coisa.

XX – E as crianças?

XY – Você ainda lembra delas?

XX – Hoje eu sonhei com os meus filhotes... Acho que foi a primeira vez que isso me aconteceu durante todo esse tempo que estou trancada aqui.

XY – Um sonho?

XX – É... O mundo se partia bem no meio e todo o resto começava a derreter pelos pólos. Só eu estava viva, meus filhos dormiam no meu colo. Uma revoada de abutres começou a se aproxima da gente. Eu tive que comer as minhas crias pra protegê-las daquelas malditas aves de rapina... Mas eu só devorei os nossos filhotes pra poder salvá-los do perigo, você me entende?

XY – Olha só! Te trouxe flores.

XX – São de plástico?

XY – Não, elas estão vivas.

XX – Pelo menos isso, né?

XY – Hã?

XX – Flores vivas! Já eu... Nem sei se...

XY – Você está aqui, meu bem. E é isso o que importa agora.

XX – Talvez seja isso mesmo, a morte me perfumando com as suas flores de cores fortes. Quem sabe eu até já esteja morta e me esqueci disso também.

XY – Não, meu bem! Você está tão viva como essas flores.

XX – Estou, é?



















XY – Veja, sinta! Eu estou aqui, ó... Me toque, me pegue, me cheire!

XX – Só sinto o cheiro da morte dentro desse quarto fechado.

XY – Você não vai ficar aqui pra sempre. Quem sabe, daqui a pouco, você já possa...

XX – Não, eu sei que NÃO posso! Eu não lembro o motivo agora, mas alguma coisa me diz que eu nunca + vou me permitir sair daqui.

XY – Por enquanto, você só tem que se cuidar, se recolher, se afastar de tudo, de todos.

XX – Às vezes, um flash de luz me acende a cabeça e eu... Eu confesso que chego a lembrar de algo.

XY – Mas do que você se lembra exatamente?

XX – É só uma pequena lembrança que eu não sei o que é. Alguma coisa, que ainda resta dentro da minha memória, insiste em ficar repetindo pra eu não esquecer.

XY – Ah, é?

XX – Mas como eu posso não esquecer de algo que eu nem sequer me lembro mais?

XY – Não pense nisso agora, meu bem! É muita coisa pra tua cabeça...

XX – Eu sei que fiz algo que me escapa.

XY – É melhor pra você continuar assim, fugindo da tua memória.

XX – Por que você vive tentando me poupar dessa lembrança que insiste em não se revelar totalmente pra mim?

XY – Não cabe a mim, meu bem... Não fui eu quem apagou a luz dentro de você!

XX – Me tira desse lugar escuro e trancado, vai!

XY – Mas como? Não sou eu quem te prende aqui!

XX – Por que você vira a cara pra mim toda vez que eu te grito socorro, hein? Olha nos meus olhos, olha!

XY – NÃO!

XX – Eu sei que tenho algo pra ver e que você tem a ver com isso! Quem sabe os teus olhos me dizem o que a tua boca cala.

XY – É uma lembrança muito cruel, você não vai suportar!

XX – Mas por que, meu Deus?

XY – Você sempre foi tão frágil, a + doce das criaturas desse mundo...

XX – Doce, eu?

XY – É! Até hoje eu ainda tento entender tudo o que te aconteceu naquele dia...

XX – Mas que dia?

XY – Não me obrigue a te dizer o que você já sabe.

XX – Eu sei que eu sei... Mas eu juro que esqueci!

XY – Naquele dia, você só tinha que fazer as coisas do jeito que sempre fez...

XX – Assim não! Não olhe pra mim desse jeito! Os teus olhos estão me dizendo TUDO.

XY – Mas você fez o que não devia ter feito. Você alterou a sequência das coisas!

XX – A sequência... Qual era mesmo a sequência das coisas?

XY – Pegar o carro e, antes de tudo, levar as crianças até a escola. Depois fazer o supermercado do dia e, logo após, ir ao banco pagar as contas de casa.

XX – Eu lembro agora!

XY – Lembra?

XX – Eu dirigia o carro quando me telefonaram... Eu já ia deixar as crianças na escola, depois faria as compras no supermercado e, + tarde, pagaria as contas no banco. Eu sempre fiz assim todo santo dia...

XY – Eu te disse, não disse? Nunca tente alterar a sequência das coisas! Nunca altere a sequência...

XX – Mas me disseram pelo telefone celular que você estava com ela naquele exato instante...

XY – Você sempre preferiu dar ouvido aos outros, né?

XX – Há algum tempo já vinham me dizendo que você e aquela escrota...

XY – Sua LOUCA!



















XX – Eu fiquei LOUCA mesmo, LOUCA de ódio, meu sangue ferveu até evaporar pelos poros do corpo inteiro... Eu precisava ver com os meus próprios olhos, precisava confirmar tudo pessoalmente. Só de pensar que ela tava contigo... Você e aquela putinha ali, juntos, sozinhos! Eu tinha que ir...

XY – E você foi! Chegou na frente da empresa, estacionou o teu carro na primeira brecha que deu, entrou quebrando tudo, nem os seguranças conseguiram te barrar. Você foi até o meu escritório e viu tudo com os teus próprios olhos.

XX – Eu já te pedi... Não me olhe assim! Os teus olhos estão perfurando os meus!

XY – Você viu que eu não estava com ela, não estava com ninguém! E você ficou lá, parada, estática, como uma estátua de sal esperando o vento te carregar.

XX – Por favor, não me faça lembrar agora o que eu tenho que esquecer... As CRIANÇAS, meu Deus!

XY – SIM, você esqueceu as crianças no carro!

XX – Cadê os MEUS filhos? Me diga logo onde estão os meus filhotes!

XY – Eles ficaram trancados dentro da porra do teu carro durante horas...

XX – Não, meus filhos não! Eu tenho que protegê-los dos abutres, tenho que devorar minhas crias, livrar eles do perigo!

XY – Era um dia quente aquele, muuuito quente.

XX – Vem comigo, vem! Me ajude a salvar os nosso pequenos!

XY – É tarde... Você não vê? Tarde d+ e a noite já apagou o dia!

XX – Olha só, veja!

XY – O quê?

XX – As paredes... Elas estão se fechando, elas querem me triturar viva. Me dá a mão, por favor! Não seja cruel comigo! Pelo menos agora, não!

XY – Eu estou aqui, meu bem! Pode deixar que eu te protejo dessas paredes, das aves de rapina, do mundo que se partiu ao meio e de todo o resto que se derrete pelos pólos.

XX – Eu preciso dormir...

XY – Isso mesmo... Tente dormir!

XX – Eu gosto quando o sono vem e me leva pra voar com ele pela noite...

XY – Continue fugindo da claridade, meu bem... O escuro é bem + seguro pra você!

XX – Nunca tente alterar a sequência das coisas! Nunca altere a sequência...

BLACKOUT





















PS: A montagem desse texto teatral só pode acontecer com a prévia autorização do AUTOR da obra.

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