NOITE Acesa

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Mais uma noite de insônia nessa cama escrota
Nada nesse mundo me faz dormir
Minha cabeça, meu corpo, meus sentidos...
Todos eles cansados de procurar o sono debaixo do edredom
Nem sei que hora é essa
Já não sei de mais nada.

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Só sei que olho pela janela do meu quarto e vejo uma cidade viva.
Suas antenas piscando, sua arquitetura confusa, seus ruídos indecifráveis...
Suas muitas luzes saindo de várias janelas.
Milhares delas, janelas nuas, luzes desfocadas...
Algumas que escapam pelas persianas entreabertas...
Luzes e janelas de uma cidade que não se apaga jamais.
Tento me envolver na sonoridade que invade escandalosamente o meu quarto.
Do alto do meu apartamento ouço sirenes, buzinas, gritos inquietos...

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Uma cidade insana, que corre, se desencontra, se esconde, se aprisiona.
Com suas caras amarradas, sua pressa desenfreada, seu vazio ‘impreenchível’...
Cheia de tiros sem alvo, sinais abertos, todo esse desespero que nunca cansa.
E essa noite que não cai, esse sono que não vem, essa hora que não avança...
CHEGA!
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Quero dormir, vou dormir até as profundezas do sei lá o quê...
Dormir pra fugir do desespero de ficar acordado no escuro de luzes indefinidas
Tentando escarpar do óbvio, me escondendo no irreal...
Pois a realidade me cansa!

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Essa cidade me cansa, essas janelas com as suas incontáveis luzes me cansam
Só porque essas tantas luzes me refletem no vidro de outras tantas janelas.
É lá que eu me miro, me encaro, me reconheço.
E me reconhecer nessa cidade infinita me cansa duplamente...
Pois o meu maior medo é ter que me reconhecer sozinho
Morro de medo de estar diante de mim, comigo mesmo, só eu e eu...
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E essa noite toda acesa já faz parte de um eu que eu não quero reconhecer
Pois me cansa me carregar inteiro nas minhas próprias costas.
Por isso mesmo é que eu me prendo nesse quarto a milhares de metros do chão
Vigiando sob os meus pés uma cidade que não se cansa.
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Abro o vidro da janela do meu quarto só pra sentir mais ainda o que vem de fora.
Olho pra baixo, sinto a força da gravidade
E ela me seduz com o seu magnetismo irresistível...
Ela me chama, me cobiça por completo.
Não tenho forças pra fugir de sua tentação.
A gravidade é mais forte do que essa minha incapacidade de fugir de mim mesmo.

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Mas quando tento me deixar levar inteiro pelo encanto da gravidade,
Vejo um bando de pessoas correndo loucamente pelas ruas.
PUTA MERDA!

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O dia ainda nem deu as caras e o povo dessa cidade pirada já corre em disparada
Isso é o cúmulo do cansaço!
E se tudo isso me cansa de um jeito quase insuportável,
É porque a minha ficha finalmente cai.
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E aí vem a tal da realidade que não se cansa de me cobrar um rumo certo
Deixando bem claro que é justamente nessa cidade de rumos incertos...
Que eu mesmo decidi me perder.

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Perdido numa vida que corre incansavelmente...
Sem nunca chegar aonde eu realmente quero.
Ah, que sono...
CANSEI DE CANSAR!

É melhor eu voltar pra minha cama
Deletando de vez essa noite da memória.
ZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ

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