quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

O ajudante de missa da grande sacerdotisa

Walmor Chagas tá longe de ser um dos meus atores preferidos. Mas a história dele se confunde com a vida da maior atriz que esse país já teve. É claro que, quando Cacilda Becker faleceu, eu nem pensava em chegar ao mundo (ela se foi em junho de 69, eu vim em julho de 75). Mas se a irmã dela, a Cleide Yaconis, já é tudo aquilo (eu a assistir em “Longa Jornada Noite Adentro”), fico imaginando o que teria sido - ou foi - Cacilda Becker.
Uma vez conversei com o próprio Walmor, quando ele foi homenageado em um festival de cinema. E ele é divertidíssimo, tem savoir-faire pra dar e emprestar.
Daí veio a perguntinha inevitável:
Quem foi Calcida Becker?
Ele simplesmente olhou pra mim com o ar + blasé desse mundo e me respondeu: “meu jovem, você ainda terá que beber muito Möer Chandon pra começar a entender quem foi aquela mulher”.
E eu tive que engolir essa resposta em seco. Mas, tb, quem manda ser tão atrevidinho, né?
Mas o próprio Walmor tem a + plena consciência de que foi um mero coadjuvante na vida de Cacilda. Ou, como ele mesmo define em entrevista dada para a revista Brasileiros: “eu fui um ajudante de missa dessa grande sacerdotisa do teatro”.


E ele foi muito + além, falou de teatro, dramaturgia e do tesão que envolve tudo isso.


Saca só:

“O teatro atiça a inteligência. Os dramaturgos são poetas que dialogam. O maior poeta inglês é dramaturgo: Shakespeare. Não escreveu em seu nome, fez-se Hamlet, Macbeth, Julieta. O teatro, generoso, retrata todos os homens. É universal! E atiça a inteligência porque nos ensina a acompanhar o tempo da palavra. A fala, ou a palavra, matéria-prima da poesia e do teatro, vem depois do raciocínio.”
“Há uma profunda ligação entre o ato sexual e o ato teatral. Produzem-se na mesma usina, irradiam o mesmo calor e aquecem igualmente o parceiro. O que comove o público é a capacidade do ator de se comover e destilar emoções por duas horas.”
“Nossos autores não aprenderam nada com Brecht. Preferem Gastão Tojeiro e os seus probleminhas familiares. Teatro político virou palavrão e, sem política, não pode haver teatro.”


PS: A Revista BRASILEIROS é incrível. Já faz parte de minhas leituras preferidas. Uma revista com reportagens estimulantes, aprofundadas e bem-sacadas. Chega daquelas revistinha meia-boca, com a profundidade de um azulejo. Eu quero matérias jornalísticas de verdade, que me dê tesão na hora de lê-las. Pois, como já disseram há muito tempo: “sem TESÃO não há SOLUÇÃO!”

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