Por Ubiratan Brasil
A pororoca é um fenômeno impressionante - um estrondoso encontro das águas do mar com as águas dos rios, durante as luas nova e cheia, que serve tanto para um inusitado surf como fonte de destruição, justificando a origem tupi-guarani do nome (que significa "onda destruidora").
É característico do Amazonas, mas também acontece em apenas um rio do Maranhão, o Mearim. "Lá, o evento atiça crendices populares, com homens se transformando em peixes e mulheres perdendo a sombra", comenta o diretor Sérgio Ferrara, responsável pela montagem da peça Pororoca, que estreia nesta quinta, 16, no mezanino do Centro Cultural Fiesp.
Trata-se de um texto escrito pelo maranhense Zen Salles, fruto do processo de formação proposto pelo Núcleo de Dramaturgia Sesi - British Council. Inspirado nas lendas e nos mitos que cercam o fenômeno, ele criou personagens que trafegam entre o real e o fantástico, que são moradores da região do Mearim. Como a índia Jacy que, de tão velha, já perdeu a sombra.
Poucos como ela sabem que o Mearim (cujo significado é "rio do povo" em tupi) oferece as principais condições de sobrevivência, mas também cobra de volta o que tiram dele sem a sua permissão.
"Fizemos uma extensa pesquisa sobre os hábitos daquelas pessoas, que vivem entre o mitológico e a realidade", conta Ferrara, convidado para assumir o projeto depois de retornar de uma temporada em países africanos de língua portuguesa, onde deu aulas e ministrou oficinas. "Zen conta ter se inspirado nas histórias que ouviu da avó quando criança e também, ao escrever, na prosa de Gabriel García Márquez, especialmente para relatar o efeito da onda gigante formada pela pororoca."
Segundo ele, há uma liberação de desejos que transforma as pessoas. Em cena, tal situação se traduz em um linguajar às vezes por demais despudorado. Há também um culto da pele, que canaliza as tensões sexuais. A fúria das águas faz com que as pessoas sejam mais objetivas e francas.
"Mas, em contrapartida a essa sensualidade, há os problemas, que são graves", observa o diretor. É o caso da afluência de surfistas, interessados em aproveitar a grande onda. "Quando vão embora, deixam uma série de meninas engravidadas, que acabam sem nenhum amparo."
Ensaios
O dramaturgo Zen Salles acompanhou o processo de ensaios, que durou quase dois meses - além de ser uma determinação do projeto de Núcleo de Dramaturgia, ele aproveitou para orientar os atores em relação ao sotaque maranhense. "Foi muito útil, pois não se parece com o nordestino, especialmente aquele ouvido em novelas", conta Ferrara.
O dramaturgo também auxiliou na escolha das músicas típicas, que são cantadas pelo elenco. E o cenário reproduz os típicos azulejos maranhenses. "São divindades indígenas retratadas naquele traço típico."
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
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