Um FILME marcante no CINEMA por ZEN SALLES:
Como um amante FIEL de CINEMA, incontáveis são os filmes que fazem parte do meu GENOMA cinematográfico. Mas, quando comecei a ter consciência desse meu vício incurável por salas de projeção, eu lembro que tinha uns 13 anos de idade e foi exatamente em um festival de filmes inspirados em grandes obras literárias e teatrais organizado por minha escola – evangélica, diga-se de passagem – que eu me deparei com um diabólico Marlon Brando encarando Vivien Leigh em um filme assinado pelo Elia Kazan.
Com o sucesso nos palcos da peça teatral de Tennessee Williams, “Um Bonde Chamado DESEJO” logo teve uma adaptação cinematográfica em 1951. No Brasil, o filme recebeu o sugestivo nome “Uma Rua Chamada PECADO”. E todo mundo já sabe o sucesso que o filme fez tanto lá fora como aqui, além de todos os prêmios que ele conquistou. Sem dúvida, uma filmografia icônica da chamada Sétima Arte.
Mas, voltando aos meus 13 anos, lembro que fiquei absolutamente hipnotizado com a atuação de todo o elenco, atores em POSSESSÃO, completamente dominados pela intensidade dos seus personagens. Logo na primeira cena, uma frágil Blanche DuBois chega na estação de Nova Orleans e já precisa da “bondade de um estranho” para obter informações de como chegar até o lugar onde mora a sua irmã Stella.
Algumas cenas depois, vemos um Stanley carregando pedaços de carne em sua costa, a personificação perfeita de um brutamonte em estado puro. Não demora muito para que toda a fragilidade confusa de Blanche se confronte com a brutalidade intempestiva de Stanley.
Inesquecível a cena de Stanley gritando “Steeeeeeeeeeella!!!” e aquela mulher descendo as escadas, ardendo de tesão por seu homem. Não me lembro de uma cena mais sexual sem apelar para a nudez em toda a história do cinema. Só o olhar encharcado de desejo do casal é mais que suficiente para dar o recado.
Talvez por causa da própria origem teatral da trama, Elia Kazan praticamente filmou a peça de Tennessee Williams. Até porque todos os elementos utilizados nessa narrativa cinematográfica servem para intensificar os conflitos que Blanche DuBois já vem carregando antes mesmo do filme começar, pois tudo no filme gira em torno dela, que é uma das personagens femininas mais bem construídas (ou o correto seria dizer desconstruída?) da história da dramaturgia universal.
Sem falar que, nesse filme, os diálogos são tão importantes quanto a própria ação das personagens. Ou, como já se disse e se repetiu tantas vezes por aí: “Um Bonde Chamado Desejo” não passa de uma peça filmada. Nada apela para o explícito nesse filme, mas tudo nele fica tão patente. A cena do estupro, por exemplo, é resolvida com a imagem de Blanche refletida em um espelho espatifando.
E é justamentente por causa de suas interpretações viscerais, por sua direção precisa e, principalmente, pela sua dramaturgia tão sensível e ao mesmo tempo vigorosa, “Um Bonde Chamado Desejo” faz parte de minha coleção de cabeceira, um filme que sempre vejo e revejo com a mesma garganta entalada, os olhos hipnotizados e o prazer da descoberta de um garoto de 13 anos.
*** Esse texto foi desenvolvido para a Oficina de Crítica de Cinema, ministrado por Christian Petermann (Revista SET, Rolling Stones, Folha de São Paulo e etc.)
Comentário do Christian sobre o texto acima:
“Texto muito bem desenvolvido e amarrado. Parabéns!”
quarta-feira, 16 de junho de 2010
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