quarta-feira, 28 de novembro de 2007

CANIBALIZANDO os Italianos

Pois é, brow... Eu tô quase virando RISOTO de eventos dramatúrgicos. Risoto não... Nesse caso foi uma boa PASTA. Sim... Eu e o meu apetite voraz nos picamos, no último dia 26, até o tal do Teatro Augusta, ali mesmo naquela rua de gente comportada e casta. Tudo isso simplesmente pra devorar uma boa massa italiana. E como a gastronomia made in Itália é divina, não foi sacrifício nenhum devorar um apetitoso prato do tal país com formato de BOTA. E a degustação foi chiquérrima. Teve até show de canto lírico. Como prato principal, foi servido um tal de Michele Panella... O quê? Mais uma Panella no mundinho teatral? Como assim?

Não sei exatamente que Panella é essa, papito! Só sei te dizer que, com Panella ou sem Panella, eu não titubeei e canibalizei esse prato italiano com bastante ketchup, só pra irritar mais ainda algumas figurinhas carimbadas que se escondem no Bexiga, no Brás e na Mooca, e acham que têm um pé inteiro atolado na Costa Amalfitana... Hehehe... Portanto, prepare o seu PALADAR, pois eu te conto agora quase tudo que rolou nesse delicioso banquete dos deuses da Toscana. Mas, como diria o Hannibal Lecter, vamos por partes:

E só pra vc não ficar viajando no Sazon, eu tb te digo quem é o Michele Panella. O cara é superjovem, tem um pouco + que 30 anos e já é curador artístico de um dos teatros + expressivos da Itália, o tal do Teatro Della Limonaia de Florença.
Nesse encontro tb estiveram presentes a diretora teatral Débora Dubois, o jornalista Sergio Salvia Coelho e a pesquisadora Neyde Veneziano, que analisaram várias questões relacionadas ao teatro contemporâneo. Mas o foco da coisa apontou para o tema “Da Encenação à Realidade”.
E, depois da Grécia, todo mundo sabe que a Itália é uma outra forte referência na cena teatral de todo esse nosso maltratado planetinha. Dramaturgos como Sêneca e Terêncio - apesar de, tb, serem influenciados pelos gregos - não nos deixam mentir. Outra coisa que instantaneamente vem em nossa cabeça quando falamos do teatral italiano é a Commedia dell’Arte, com a sua comicidade poética e os seus personagens encantadores. Mas como é que essa história toda vem parar em terra tupiniquins, ô, cara-pálida?

A pesquisadora Neyde Veneziano, professora da Unicamp e especializada em teatro italiano, falou da influência que a Itália e o teatro italiano vêm exercendo em São Paulo ao longo de sua formação como megalópolis. Até pq uma coisa é certa e inquestionável: tanto a cidade de São Paulo como o próprio teatro paulista (ou paulistano, sei lá) têm a cara dos italianos. A influência desse povo é visível nessa cidade infinita. Seja na culinária, no jeito passional e franco de falar, no modo prático e elegante de se vestir... E isso acontece desde o tempo que uma legião de italianos veio da Europa pra fazer a América nessas bandas do hemisfério Sul.
Entre um trabalho e outro, ou até mesmo nos cortiços onde viviam, pequenas manifestações teatrais sempre estiveram presentes na vida dos imigrantes italianos. E tudo isso rolava até mesmo como uma forma de lazer, de uma maneira totalmente espontânea, quase sempre inspiradas nas personagens da Commedia dell’Arte. Ah... E os enredos dessas “improvisações teatrais” falavam quase sempre da filha do italiano que tinha vergonha dos pais – pq eram de origem humilde – e que queria se casar com o filho do português, um tipo de gente com mais (pelo menos era o que se dizia no começo do século passado) classe e tradição. Saca a Dona Xepa? Pois é... Era uma coisa meio assim. E eu já quero dizer de antemão que quando essa novela passou, a tal da Dona Xepa, eu nem pensava em vir CAUSAR nesse mundinho absurdo. Esse exemplo foi dado pela própria Neyde. Não é coisa minha, não!
E, como bem sabemos, alguns desses italianos – com nome de trabalho e sobrenome de hora-extra – fizeram verdadeiras fortunas no Brasil. E já que se tinha muito dinheiro, alguns instantes de prazer eram + que indispensáveis. E como praia não é exatamente coisa de paulista, o povo daqui começou a freqüentar desde cedo os teatros. Muitas companhias internacionais vieram e, quando elas não viam, os italianos daqui tinham as suas próprias divas. Ou alguém nunca ouviu falar na grande atriz Itália Fausta? Pois é... Dizem que ela era da pá-virada e arrasava em cena.
Outra figura que nunca vai passar em branco, nessa história da influência italiana no teatro paulista, é o Franco Zampari. Esse cara conseguiu construir um verdadeiro império e, por isso mesmo, queria retribuir tudo o que São Paulo proporcionou de bom em sua rica vida. E sabe qual foi, entre outras coisas, a forma de retribuição desse italiano podre de rico? Se a sua resposta foi o TBC... Absolutamente CERTA! É... O lendário TBC. Foi ali, na rua Major Diogo, que São Paulo conheceu um verdadeiro templo que revolucionou o teatro. Aliás, o teatro brazuca foi, por muito tempo, dividido em antes e depois do TBC. Foi lá que surgiram os grandes nomes de nossa cena, entre atores, encenadores, produtores, iluminadores e váááááários outros profissionais da área.

Franco Zampari

Também sabemos que teatro brasileiro é feito, basicamente, de aglutinações e diásporas. E assim aconteceu com o já falecido TBC (isso mesmo, ninguém mais tem dúvida de que o TBC já era, é só dá uma passadinha lá na Major Diogo para ver, pessoalmente, aquele casarão caindo aos pedaços). Mas os caras que começaram lá continuaram na ativa, botaram a mão na massa e, até hoje, muito deles continuam provocando, revolucionando e produzindo espetáculos teatrais de CHAPAR qualquer cidadão do mundo.
E dali pra frente, a competência do teatro paulista só fez aumentar. Tanto que, em nosso país, Sampa já se destaca como o lugar de maior efervescência no meio teatral. É claro que leis de fomento e toda a visibilidade que essa cidade infinita tem no resto do mundo são fatores decisivos. Mas não é só isso, não. Tem uma moçada aqui que não tá muito a fim de ficar acomodada. E tá botando o bonde do rolê pra bombar! E a Praça Roosevelt é um bom exemplo disso. Bem... E foi basicamente isso que eu consegui anotar do papo que tivemos com a Neyde Veneziano.
O Michele Panella, curador do Teatro Della Limonaia, em Florença, falou sobre a sua experiência e o que ele tem visto na cena teatral de todos os países que ele visita. E são vários, não há nenhum critério na escolha de qual será o país visitado e o que interessa mesmo pra ele e pra sua trupe é o intercâmbio, a troca, a interação... Resumo da ópera: essa moçada tá + a fim é de visitar e perceber o que vem sendo feito em outras localidades, quais as pesquisas, assuntos de interesse, o que há de particular ou local nessas produções e, conseqüentemente, quais os seus aspectos universais.
Panella falou da estrutura de alguns textos que ele leu pelo mundo afora e que chamaram muito a sua atenção. E, segundo ele, tem muito dramaturgo aí investindo naquele papo que, ao que parece, já virou modinha: a tal da DESCONSTRUÇÃO. É o tal do desconstrói pra depois construir novamente. Ele tb apontou o meta-teatro, outra coisa que vem sendo reinventada e que já virou mania. Ou seja, é meta-teatro na Itália, meta-teatro no Brasil, meta-teatro na PQP... É por isso que eu já disse que cansei de META, eu quero + é METER. Mas nem que seja o pé na jaca!
Mas o ta do Panella tb ressaltou a intensa produção de textos no melhor estilo Sarah Kane. Ou seja, aquela coisa explosiva, paranóica, um mundo conturbado, caos absoluto, pessoas querendo comer os seus semelhantes... Êpa! Esse tema me atrai... Já me sinto! Adoro esse teatro sedento, faminto, que vai na garganta e te arranca a bílis. BULIMIA na cabeça! Mas uma bulimia feita de desassossego, inquietação, sensibilidade e poesia. E como isso é possível? Vômito e poesia no mesmo caldo? Sim... É superpossível. E a sobrenatural Sarah Kane é uma prova cabal disso!!!
E o + bacana de toda essa análise do Panella é o fato dos caras lá da Europa estarem antenados com outras regiões do mundo, buscando uma interação com outros tipos de cultura. E são eles que vão atrás, pesquisando, trocando idéia, não só naquele papo de Torre de Marfim. Tudo bem que uma torre, de vez em quando, não faz mal pra ninguém. Afinal de contas, ninguém estuda teatro ou escreve uma peça no meio da quadra da Vai-Vai num dia de ensaio da bateria, né? O silêncio e a concentração tb fazem parte do processo. Mas, por outro lado, não dá pra ficar trancado na tua cobertura achando que é o máximo. Pelo jeito, só vc sabe disso. Então, seu mela-cueca, bota esse teu bloco na rua que o carnaval já tá chegando!
Panella contou que o resultado de todo esse envolvimento, todo esse interesse dos italianos pelo que tá rolando na cena teatral dos quatro cantos do planeta, já pode ser conferido em grande parte dos teatros de lá, que contam com bibliotecas com um imenso acervo de obras dramatúrgicas do mundo inteiro. Ele tb falou que, no teatro que ele faz curadoria, a biblioteca tem mais de 10 mil títulos só de textos de outros países. E eles não ficam lá apenas como enfeite, não. O povo devora, se joga na leitura. Portanto, canibalizar outras culturas é fundamental!!!
E, o que é melhor, a tua obra tb pode estar nas bibliotecas desses teatros italianos. Nesse encontro, foi passado o e-mail do próprio TA, que vem mantendo um forte intercâmbio com as companhias e os teatros de lá. Se vc quiser + detalhes, telefona pra lá, visita o site ou então manda um e-mail para: biblioteca@teatroaugusta.com.br

A Débora Dubois, que é diretora e atriz, falou de sua temporada dirigindo uma peça brasileira na Itália, no Projeto Festival Intercity, promovido pelo Teatro Della Limonaia. E, de acordo com o depoimento dela, foram os próprios caras de lá que tiveram a iniciativa de entrar em contato. Isso mesmo! Foram eles que fizeram o convite, possibilitaram a ida de Débora Dubois pra lá, além de bancar toda a sua estada. E Dubois falou justamente desse interesse que eles têm em estabelecer intercâmbios culturais e como isso é essencial para o enriquecimento de uma pessoa.
Logicamente, Dubois mencionou as excelentes bibliotecas dos teatros de lá, confirmando que elas têm uma infinidade de coisas e estão lotadas de textos com a dramaturgia dos lugares + improváveis desse planeta.
Ela tb disse – e o que eu achei bacanérrimo – que nunca viu tantos títulos e textos de dramaturgia brasileira como nas bibliotecas dos teatros italianos... E textos dos dramaturgos de hoje, de ontem, enfim... Nem aqui, no Brasil, ela disse que viu um lugar que reunisse tanto texto teatral brasileiro como lá.
Débora Dubois até arriscou dizer que, se algum dia o Brasil desaparecer do mapa, a dramaturgia brasileira pode ficar tranqüilíssima, pois as bibliotecas dos teatros italianos já se anteciparam na salvação da história de nossa cena.
E eu preciso urgentemente mandar os meus textos pra lá antes que a casa caia. Sim, pq do jeito que esse Brasil anda desandando ultimamente, um dia a casa tomba de vez. E já me basta o estádio da Fonte Nova, os aviões da TAM, da Gol, da BRA... Eu não quero ir pro buraco não. Jamé! E qual é mesmo o e-mail desses italianos?
Sergio Salvia Coelho, jornalista e crítico teatral da Folha de São Paulo, deu uma pincelada geral sobre a história do teatro e da dramaturgia brasileira. E, tb, como a nossa cena foi adquirindo uma identidade própria, quais foram as nossas influências + significativas, os nossos ajustes e desajustes até chegarmos nisso que anda rolando hoje em dia.
Ele, como crítico teatral e pesquisador do assunto, constatou essa verdadeira ‘dengue hemorrágica’ de dramaturgos que anda atacando São Paulo. E que, dentro desse caldeirão fervido, rola muita coisa de qualidade, gente que tem procurado outras linguagens, vem descobrindo novas possibilidades e etc.
Nos anos 90, ele citou o Teatro da Vertigem como o grande diferencial de uma cena contemporânea, com um estilo original e com a nossa cara brasileira, sem deixar, portanto, de ser universal. Ele também lembrou que nomes como Bortolloto e Bonassi – nomes italianos? – surgiram pra ficar e os caras até conseguem sobrevir disso, com uma escrita autêntica, uma pegada própria e muita personalidade tanto no texto como em suas propostas cênicas.
E Sérgio finalizou falando dos Satyros que, segundo ele, é um fenômeno que demonstra claramente esse interesse cada vez + freqüente das pessoas em relação a uma nova geração de dramaturgos. Pra ele, a Satyrianas e o DramaMIX representou perfeitamente essa necessidade de possibilitar um intercâmbio maior entre autores teatrais, estabelecendo contatos e conexões entre eles, além do próprio incentivo pra quem tá a fim de se jogar nessa cova de leões gulosos... Enfim... Um verdadeiro banquete de teatro. Sirva-se!!! E, nesses intercâmbios, o idioma não tem se revelado como barreira. Haroldo Ferrari, um dos atores que protagonizou a peça “O Assalto”, dirigida pelo Zé Celso, contou da experiência que ele teve quando o Oficina foi convidado pra fazer algumas apresentações pela Europa e, mais precisamente, por toda a Itália. O cara falou de como a questão da lígua não representou nenhum impercilho, pq a linguagem do teatro é universal, que as pessoas conseguem compreendê-la seja pelo gestual ou até mesmo pela emoção.

Na foto, o resgistro de um delicioso banquete em "O Assalto"
Na real, eu acredito que ninguém sabe dizer exatamente como esse diálogo e essa compreensão entre idiomas, até certo ponto distintos, se estabelece na experiência teatral. Mas teatro é teatro, tem a sua magia e só mesmo Baco pra desvendar esse mistério. E como, ultimamente, Baco anda freqüentando a casa da Amy Winehouse com uma certa constância, é melhor não provocar o tal do deus cachaceiro... hehehe...
Depois dessa degustação à italiana, eu saí do Teatro Augusta com uma fome da parra, doidinho pra me jogar no Piolim e devorar uma bela lasanha à bolonhesa. Até Pizza de supermercado eu encarava. Mas daí eu pensei: até chegar lá no Piolim, eu terei que atravessar praticamente toda a tal da rua Augusta, encarar aqueles simpáticos recepcionistas de porta de puteiro querendo me jogar pra dentro daqueles templos da sacanagem nem que seja debaixo de cacete, driblar aquelas moças de família que vivem nas calçadas de lá sempre te oferecendo uma mãozinha ou uma sessão exclusivíssima de massagem tântrica... E eu, como sou um cara suuuuupercarente, desisti da lasanha, da pizza de supermercado e de toda a putaria daquela rua insana. No WaY! Eu já estava empanturrado de pratos italianos até a tampa. Sem falar que, agora, eu sou um cara totalmente light. Só janto em casa... E minha dieta inclui apenas arroz integral com carnes magras e nada mais... Hehehe... E viva Baco!!! Que ele esteja entre nós, nos embriagando com a sua deliciosa e faminta ARTE.
E Vicenza não perde por ME esperar. Eu quero invadir essa praia! Ooops... Alguém aí sabe me responder se rola praia em Vicenza? Hehehe!
PS: Todos que estiveram presentes no evento não deixaram de notar a MOSCA que não parava de perturbar o tal do Michele Panella e o resto da moçada que tava no palco divagando sobre a cena teatral contemporânea. E eu, inocente que sou, pensei que moscas gostassem apenas de sopa e não fossem nenhum pouco chegadas em uma delícia italiana. Huuum... Essas moscas andam tão ousadas ultimamente, né! Tragam o inseticida, por favor... Contratem o DDDrim – lembra? – e exterminem urgentemente aquela mosca abusada do Teatro Augusta! Hehehe...


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