sábado, 24 de novembro de 2007

Os ADESIVOS no ORELHÃO

Ele saiu do trampo e ia pegar o metrô na Praça da República. Trabalhava como telemarketing da ATENTO. Aliás, ele sempre dizia pros seus amigos que, nessa cidade que não te dá chance de sonhar, um zé-ruela como ele só tinha três opções: ou trabalhava com telemarketing, ou virava michê ou, então, se envolvia com a galera do tráfico. E ele sempre se achou um perfeito otário, pq não tinha coragem nem de vender o corpo, muito menos de mexer com droga e, pra piorar, nunca passou pela sua cabeça a idéia de se jogar de cima do Copan. Então, paciência... Ele ia vivendo assim: sem SONHO.
E ele seguiu em frente pela Praça da República, curtindo um som no seu MP3 que comprou no shopping daquele chinês que o Kassab mandou prender. Ele sempre comprou essas tranqueiras eletrônicas naqueles shoppings zoados próximos da 25 de Março. E tudo em vááárias vezes sem juro. Pelo menos, ele jurava que não rolava juros. Um dia até se perguntou por que investia o seu mirrado salário em objetos que durariam o mesmo tempo que a espinha que acabou de nascer em sua testa. Mas aí vinha aquela velha perguntinha de sempre: fazer o quê, né, cara-pálida? Já sou um fodido mesmo, então que se foda com estilo e totalmente na vibe.
Assim, conformado com a sua falta de sorte, ele sobrevivia com o seu tédio latente. Sempre com o seu indefectível headfone no ouvido. E no seu aparelho de MP3 só rolava o som do Radiohead, pois ele podia baixar, totalmente na faixa, o som do último álbum dos caras. E isso, pra ele, era tudo. Tava ‘sussa’, de boa... E fim de papo.
E como, naqueles dias, tava rolando o tal do horário de verão, ele queria + era curtir o sol de fim de tarde. Daí ele pensou: que tal uma breja com os manos + chegados que tb trampam por essas bandas da República?
Mas o seu celular não tinha um crédito sequer, nem pra mandar um torpedo. Só que ele lembrou que tinha um cartão telefônico dentro da mochila e resolveu telefonar pros manos e mandar todo mundo descer até a Galeria Olido, pois lá sempre rolava um som black e coisas do gênero.
Ele logo viu um orelhão pelo caminho, foi até lá e, rapidamente, começou a discar pro primeiro nome que encontrou na agenda do seu celular. Enquanto escutava o barulho da chamada, ele começou a ler, entre as dezenas de adesivos pregados por todo o orelhão, um que dizia assim:

“Coroa, gostosa, oral e anal completo. Gozo duas vezes sem sair de cima.”

Ele começou a pensar: ”Puta que pariu! Pq ninguém atende logo a porra desse telefone, hein?” Daí, ele resolveu partir pra outro nome da sua agenda. Discou imediatamente o número. Mas a sua visão não vacilou e logo focou em um outro adesivo:

“Kátia Paquita, a tua loira boqueteira. Devoro o teu caralho até o talo e sem camisinha. Te dou uma lambidinha, chupo tuas bolas e ainda engulo toda a tua porra. Se tiver pau grande, rola até beijo na boca sem cobrar por fora.”

Ele tentou não dar atenção pra + nada, se concentrou apenas no seu telefonema. Só que, mais uma vez, o orelhão chamou, chamou e ninguém atendeu do outro lado... E um outro adesivo GRITOU em sua vista.

“Lurdinha Rabuda. Seios da hora, dupla penetração anal, dedos grandes e unhas bem feita pra um gostoso fio-terra.”
Ele começou a suar em bicas, não agüentava mais. Desligou o telefone e, quase que descontroladamente, começou a ler todos os adesivos pregados naquele orelhão da República. E ele lia tudo em VOZ alta:

“Mulata Tarada, Taty Rabo de arraia, Rosana Topa-Todas, Baiana Cunete, Gracinha toda-dura... Oral sem camisinha, anal na pressão, beijo de língua... Grita, geme, cospe na cara, bate uma bronha com todo o carinho do mundo... Promoção diária, preço de ocasião... Aceita vale-transporte, bolsa-escola, ticket-refeição...”

Quando ele caiu em si, notou que tinha uns mendigos parados ao redor dele, alguns com olhos surpresos, outros zoando da cara dele com um sorrisinho insuportavelmente sacana. Ele quase se cagou nas calças quando percebeu que estava em pleno olho daquele furacão de moradores de rua.
E, num ímpeto incontrolável que nem ele mesmo sabia que possuía, começou a arrancar todos os adesivos que encontrava pela frente e a jogar dentro de sua mochila. A maioria dos adesivos rasgou quando ele os arrancou, outros grudaram uns nos outros... Mas ele não tava nem aí. Ou pior: nem sabia o que tava fazendo. Só sabia que deu na veneta e foi aquilo que ele fez.
Depois, ele correu pro metrô. Desistiu de curtir uma breja com os amigos. Desistiu da música black na Galeria Olido... Desistiu de TUDO. Só queria chegar em casa. E a sua viagem do centro da cidade até a última estação da Zona Leste durou uns 20 minutos. Ele saiu do metrô, pegou um buzão e, por último, uma lotação. Foram quase duas horas de viagem.
Finalmente, chegou em sua casa nos confins de Guaianazes. Ele nem foi falar com o resto da família que assistia, hipnotizada, o Jornal Nacional e as suas repetitivas notícias de bala perdida em favela do Rio ou seqüestro-relâmpago nos condomínios fechados de Sampa. Mas ele não queria saber de nada daquilo, só queria ficar trancado no seu minúsculo quarto localizado nos fundos daquela casa com paredes sem reboco. Ele abriu a mochila e tentou tirar, cuidadosamente, todos aqueles adesivos lá de dentro. Chegou a pregar alguns na parede bem próxima de sua cama.
Ele se deitou e ficou com os olhos VIDRADOS nos adesivos. A excitação foi inevitável. Suas mãos acariciavam seu pau e, cansado da vida, ele caiu no sono. Mas o readfone do seu MP3 continuava no seu ouvido. Sempre tocando músicas da banda do Thom York.
Ele até sonhou que tinha um harém formado apenas pelas garotas daqueles adesivos que roubou do orelhão. E elas tomavam forma, saiam de seus adesivos e invadiam o seu cobertor. Ele GOZOU dormindo um SONO quase de morte.
E ele só acordou no dia seguinte com o despertador do próprio celular. Tinha que tomar uma ducha bem rapidinho, e se mandar logo pro trampo pois, pra variar, estava atrasadíssimo e seu chefe já tava de olho nele, querendo encontrar qualquer desculpa pra lhe dá um pé na bunda. Mas ele voltou pra cama, queria + que o escroto do seu chefe tomasse no rabo. Tava cagando e andando pro mundo!!! Ele queria + era sonhar, nem que fosse por uns cinco minutinhos. Afinal de contas, sonhar não paga CPMF.
E ele dormiu, gozou outra vez, perdeu o dia, perdeu o emprego...

Mas SONHOU um SONHO que nunca + teve na VIDA.

Um comentário:

Nilak Penaforte disse...

Caralho...
Meu Zen,antes de tudo*apláusos*,vc mandou muito bem,é a realidade,ou chega bem perto ,de alguns garotos da Atento,a desilusão do jovem,a se restringir à uma vida mecânica,para a exploração trabalhista.Mas inevitavelmente,pelo simples motivo de ser humano,a alienação,um dia se quebra,até da forma mais boba,inconcient,com um adesivo de orelhão,ou outras cositas mas.
uhahuauh
Beijom(xXx) Lucimara