quinta-feira, 22 de novembro de 2007

CONTO sem FIM


Os meus olhos estavam completamente arregalados quando eu cheguei de madrugada...
Focados em um ponto que ninguém sabia ao certo...
Olhos firmes mas perdidos em um só lugar...
OLHOS sonâmbulos.
É... Foi isso que o zelador do meu prédio disse praquele jornal sensacionalista.
Ele também disse que eu peguei o elevador, andei pelo corredor e entrei no meu apê.
Ele viu tudo isso pelas câmeras do circuito fechado.
E disse só isso e nada mais.
Foi quando todos escutaram o meu grito no apartamento do andar mais alto...
E eu não estava mais lá...
Estava na área de lazer do meu prédio...
Bem perto daquela piscina com pastilhas cor verde-bandeira...
Estava completamente nua...
O corpo parecia relaxado...
Como numa meditação conduzida por um mantra insuportavelmente silencioso.
E todos do prédio apareceram em suas janelas...
Todos olhavam com curiosidade...
Todos queriam saber o que estava acontecendo no meu apartamento...
E também na área de lazer.
Aqueles olhares...
Os olhos de todos...
Eles me acusavam:
“Só podia ser ela, aquela estranha...”
Meus vizinhos, minha tribo, meu mundo...
Todos eles me condenando, me olhando com nojo...
Pena talvez!
Mas pena de quem? De mim?
Me vi no centro daquela área de lazer completamente despida...
Com aqueles olhos de todos ‘secando’ minha nudez...
Reprovando a minha quintessência.
O zelador, coitado, não sabia o que fazer.
Ele veio correndo ao meu encontro...
Trazia uma toalha com um forte cheiro de sabão em pó...
Uma toalha recém-lavada e secada...
Cheiro de coisa nova, daquilo que pouco foi usado...
Ele cobria a minha falta de vergonha com aquela toalha seca com cheiro de Omo.
Fiquei ali tentando rememorar o ocorrido.
Só me lembro de ter penetrado num subterrâneo.
Mas ali não era a área de lazer?
É que eu sempre gostei de visitar cavernas...
Seja lá onde for.
Até mesmo ali, na beira da piscina.
De repente, ouvi o som de uma sirene...
Um barulho interminável, repetitivo, irritante...
Homens de branco estavam me recolhendo numa maca...
Limpavam meu sangue.
Fecharam a porta da ambulância...
Luzes, barulhos, gritos...
Todos querendo sara a minha dor
Que dor?
Já não havia mais dor.
Lembro que estava em algum lugar onde podia ver tudo...
Como um clipe ou trailer de um filme trash...
Eu ali, protagonista de tudo aquilo...
Via o meu passado...
E o meu futuro?
Cadê o meu futuro, hein?
Essa história toda, onde finalmente sou a protagonista, não tem fim?
Acho que NÃO!
Não sei como acabou essa história...
Só sei que já não sinto mais dor...
E isso pra mim BASTA!!!

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