sábado, 30 de junho de 2007

um CORPO que GRITA


A tua BOCA insiste em ficar calada...
Não me diz absolutamente NADA.
Mas o teu CORPO não vacila
Te ENTREGA logo
E me conta TUDO

Cada GESTO...
Cada MOVIMENTO...
Todo o teu SILÊNCIO...
Tudo te DENUNCIA.

E você CONTINUA a negar
Totalmente de boca FECHADA
Nega nessas tuas FUGAS desnecessárias...
Nega quando apenas me diz que gosta de mim pra CACETE...
Nega quando tenta evitar o meu abraço mais GRUDADO

E é esse teu modo de CALAR...
que me RESPONDE até o que eu não quero saber

Teu corpo GRITA!
Grita SIM
Nem adianta dizer que NÃO
Pois ele ‘me grita’ toda vez que a GENTE se esbarra.

E você NUNCA quer dar na vista...
Mas é SEMPRE muito tarde...
Eu vejo tudo pelo CANTO do olho
Tudo o que você quer negar e não CONVENCE...

Porque a tua pupila se RASGA inteira quando me mira de cima abaixo
Tua garganta seca quando ENGOLE em seco esse teu desejo fugidio
A tua jugular se INCHA completamente pedindo os meus dentes

Quando eu me APROXIMO você se afasta...
Mas é essa tua patente rejeição que me SUPLICA

Você sorrir amarelo quando a minha ousadia te ENCURRALA
Mas quando você MOLHA os lábios no teu desespero de me evitar...
É a minha SALIVA que a tua boca chama

E nem adianta me CHAMAR de amigo...
A tua expressão TÁTIL me diz totalmente o contrário.
Teu corpo tá sempre declarando GUERRA entre nós dois...
Uma guerra de VÍSCERAS
De ANTICORPOS
Detonada em nossos CÓDIGOS genéticos
GENOMA TOTAL!

Mas essa tua boca continua INSISTINDO em não me dizer nada...
Não CONFESSA nem fodendo
Só que o teu corpo já deu a maior BANDEIRA...
BANDEIRA BRANCA...
Que eu quero lavar com OMO Multi-Ação
E depois SUJAR de novo.
Só pra ter o prazer de limpar com a minha LÍNGUA ferina

Daí em diante, não se precisa FALAR mais nada
É melhor ficar CALADO mesmo...
Um OLHANDO para o outro
Calados nesse silêncio que EXASPERA
E pra quê PALAVRAS, né?
Se todo o resto já nos DELATOU há muito tempo.

A Dominação

Ele suaviza a minha acidez cancerígena com os seus olhos reservados.
E eu logo me vejo com ele cometendo saborosos impropérios.
Ele me intimida com a sua calma absurdamente mansa.
E eu já querendo desaguar nele todo o meu oceano nada pacífico.
Sua sutileza estupra a minha promiscuidade imaginativa...
Que já suplica pelo seu corpo quase santo.
E ele vem
Vem...
E se crucifica só pra mim.
E eu pecador...
Eu devoto.
Fiel a esse desejo que ele me acende.
E a fumaça que sai do seu cigarro parece um incenso...
Um ritual de purificação...
Exorcismo...
PORTEGAISE.
Fala que eu te escuto.
Bem-aventurado os mansos...
Amém!!!

NOITE Acesa

.
Mais uma noite de insônia nessa cama escrota
Nada nesse mundo me faz dormir
Minha cabeça, meu corpo, meus sentidos...
Todos eles cansados de procurar o sono debaixo do edredom
Nem sei que hora é essa
Já não sei de mais nada.
.
Só sei que olho pela janela do meu quarto e vejo uma cidade viva.
Suas antenas piscando, sua arquitetura confusa, seus ruídos indecifráveis...
Suas muitas luzes saindo de várias janelas.
Milhares delas, janelas nuas, luzes desfocadas...
Algumas que escapam pelas persianas entreabertas...
Luzes e janelas de uma cidade que não se apaga jamais.
Tento me envolver na sonoridade que invade escandalosamente o meu quarto.
Do alto do meu apartamento ouço sirenes, buzinas, gritos inquietos...
.
Uma cidade insana, que corre, se desencontra, se esconde, se aprisiona.
Com suas caras amarradas, sua pressa desenfreada, seu vazio ‘impreenchível’...
Cheia de tiros sem alvo, sinais abertos, todo esse desespero que nunca cansa.
E essa noite que não cai, esse sono que não vem, essa hora que não avança...
CHEGA!
..
Quero dormir, vou dormir até as profundezas do sei lá o quê...
Dormir pra fugir do desespero de ficar acordado no escuro de luzes indefinidas
Tentando escarpar do óbvio, me escondendo no irreal...
Pois a realidade me cansa!
.
Essa cidade me cansa, essas janelas com as suas incontáveis luzes me cansam
Só porque essas tantas luzes me refletem no vidro de outras tantas janelas.
É lá que eu me miro, me encaro, me reconheço.
E me reconhecer nessa cidade infinita me cansa duplamente...
Pois o meu maior medo é ter que me reconhecer sozinho
Morro de medo de estar diante de mim, comigo mesmo, só eu e eu...
.
E essa noite toda acesa já faz parte de um eu que eu não quero reconhecer
Pois me cansa me carregar inteiro nas minhas próprias costas.
Por isso mesmo é que eu me prendo nesse quarto a milhares de metros do chão
Vigiando sob os meus pés uma cidade que não se cansa.
.
Abro o vidro da janela do meu quarto só pra sentir mais ainda o que vem de fora.
Olho pra baixo, sinto a força da gravidade
E ela me seduz com o seu magnetismo irresistível...
Ela me chama, me cobiça por completo.
Não tenho forças pra fugir de sua tentação.
A gravidade é mais forte do que essa minha incapacidade de fugir de mim mesmo.
.
Mas quando tento me deixar levar inteiro pelo encanto da gravidade,
Vejo um bando de pessoas correndo loucamente pelas ruas.
PUTA MERDA!
.
O dia ainda nem deu as caras e o povo dessa cidade pirada já corre em disparada
Isso é o cúmulo do cansaço!
E se tudo isso me cansa de um jeito quase insuportável,
É porque a minha ficha finalmente cai.
.
E aí vem a tal da realidade que não se cansa de me cobrar um rumo certo
Deixando bem claro que é justamente nessa cidade de rumos incertos...
Que eu mesmo decidi me perder.
.
Perdido numa vida que corre incansavelmente...
Sem nunca chegar aonde eu realmente quero.
Ah, que sono...
CANSEI DE CANSAR!
É melhor eu voltar pra minha cama
Deletando de vez essa noite da memória.
ZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ
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