sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

AGRIDOCE

"AGRIDOCE" foi apresentado pela primeira vez no dia 12 de Novembro, às 23h59, no Teatro dos Satyros 2, como parte da programação do DRAMAMIX das SATYRIANAS 2011.

DRAMATURGIA: Zen Salles

DIREÇÃO: Lucianno Maza

ELENCO: Gilda Nomacce & Clovys Torres

FOTOS: Ricardo Massaki


PERSONAGENS:
#XX
#XY




























XX – Te esperei tanto.

XY – As coisas não dependem só de mim. Eu só vim hoje porque me foi permitido.

XX – Por que eu estou presa nesse quarto escuro sem nenhuma janela? Por que eu estou assim, amarrada desse jeito, como se eu fosse uma...?

XY – Acredite em mim, meu bem! Se você está aqui dentro é porque não existe outra coisa melhor pra você agora.

XX – Às vezes, as paredes desse quarto se movem na minha direção, querem me triturar inteira. O que foi que eu fiz pra merecer essa tortura? Eu não me lembro! Juro que NÃO! Minha memória parece que anda fugindo de mim, minha cabeça tá se perdendo na escuridão.

XY – Um dia, quem sabe, as coisas fiquem claras e você finalmente consiga se lembrar de alguma coisa.

XX – E as crianças?

XY – Você ainda lembra delas?

XX – Hoje eu sonhei com os meus filhotes... Acho que foi a primeira vez que isso me aconteceu durante todo esse tempo que estou trancada aqui.

XY – Um sonho?

XX – É... O mundo se partia bem no meio e todo o resto começava a derreter pelos pólos. Só eu estava viva, meus filhos dormiam no meu colo. Uma revoada de abutres começou a se aproxima da gente. Eu tive que comer as minhas crias pra protegê-las daquelas malditas aves de rapina... Mas eu só devorei os nossos filhotes pra poder salvá-los do perigo, você me entende?

XY – Olha só! Te trouxe flores.

XX – São de plástico?

XY – Não, elas estão vivas.

XX – Pelo menos isso, né?

XY – Hã?

XX – Flores vivas! Já eu... Nem sei se...

XY – Você está aqui, meu bem. E é isso o que importa agora.

XX – Talvez seja isso mesmo, a morte me perfumando com as suas flores de cores fortes. Quem sabe eu até já esteja morta e me esqueci disso também.

XY – Não, meu bem! Você está tão viva como essas flores.

XX – Estou, é?



















XY – Veja, sinta! Eu estou aqui, ó... Me toque, me pegue, me cheire!

XX – Só sinto o cheiro da morte dentro desse quarto fechado.

XY – Você não vai ficar aqui pra sempre. Quem sabe, daqui a pouco, você já possa...

XX – Não, eu sei que NÃO posso! Eu não lembro o motivo agora, mas alguma coisa me diz que eu nunca + vou me permitir sair daqui.

XY – Por enquanto, você só tem que se cuidar, se recolher, se afastar de tudo, de todos.

XX – Às vezes, um flash de luz me acende a cabeça e eu... Eu confesso que chego a lembrar de algo.

XY – Mas do que você se lembra exatamente?

XX – É só uma pequena lembrança que eu não sei o que é. Alguma coisa, que ainda resta dentro da minha memória, insiste em ficar repetindo pra eu não esquecer.

XY – Ah, é?

XX – Mas como eu posso não esquecer de algo que eu nem sequer me lembro mais?

XY – Não pense nisso agora, meu bem! É muita coisa pra tua cabeça...

XX – Eu sei que fiz algo que me escapa.

XY – É melhor pra você continuar assim, fugindo da tua memória.

XX – Por que você vive tentando me poupar dessa lembrança que insiste em não se revelar totalmente pra mim?

XY – Não cabe a mim, meu bem... Não fui eu quem apagou a luz dentro de você!

XX – Me tira desse lugar escuro e trancado, vai!

XY – Mas como? Não sou eu quem te prende aqui!

XX – Por que você vira a cara pra mim toda vez que eu te grito socorro, hein? Olha nos meus olhos, olha!

XY – NÃO!

XX – Eu sei que tenho algo pra ver e que você tem a ver com isso! Quem sabe os teus olhos me dizem o que a tua boca cala.

XY – É uma lembrança muito cruel, você não vai suportar!

XX – Mas por que, meu Deus?

XY – Você sempre foi tão frágil, a + doce das criaturas desse mundo...

XX – Doce, eu?

XY – É! Até hoje eu ainda tento entender tudo o que te aconteceu naquele dia...

XX – Mas que dia?

XY – Não me obrigue a te dizer o que você já sabe.

XX – Eu sei que eu sei... Mas eu juro que esqueci!

XY – Naquele dia, você só tinha que fazer as coisas do jeito que sempre fez...

XX – Assim não! Não olhe pra mim desse jeito! Os teus olhos estão me dizendo TUDO.

XY – Mas você fez o que não devia ter feito. Você alterou a sequência das coisas!

XX – A sequência... Qual era mesmo a sequência das coisas?

XY – Pegar o carro e, antes de tudo, levar as crianças até a escola. Depois fazer o supermercado do dia e, logo após, ir ao banco pagar as contas de casa.

XX – Eu lembro agora!

XY – Lembra?

XX – Eu dirigia o carro quando me telefonaram... Eu já ia deixar as crianças na escola, depois faria as compras no supermercado e, + tarde, pagaria as contas no banco. Eu sempre fiz assim todo santo dia...

XY – Eu te disse, não disse? Nunca tente alterar a sequência das coisas! Nunca altere a sequência...

XX – Mas me disseram pelo telefone celular que você estava com ela naquele exato instante...

XY – Você sempre preferiu dar ouvido aos outros, né?

XX – Há algum tempo já vinham me dizendo que você e aquela escrota...

XY – Sua LOUCA!



















XX – Eu fiquei LOUCA mesmo, LOUCA de ódio, meu sangue ferveu até evaporar pelos poros do corpo inteiro... Eu precisava ver com os meus próprios olhos, precisava confirmar tudo pessoalmente. Só de pensar que ela tava contigo... Você e aquela putinha ali, juntos, sozinhos! Eu tinha que ir...

XY – E você foi! Chegou na frente da empresa, estacionou o teu carro na primeira brecha que deu, entrou quebrando tudo, nem os seguranças conseguiram te barrar. Você foi até o meu escritório e viu tudo com os teus próprios olhos.

XX – Eu já te pedi... Não me olhe assim! Os teus olhos estão perfurando os meus!

XY – Você viu que eu não estava com ela, não estava com ninguém! E você ficou lá, parada, estática, como uma estátua de sal esperando o vento te carregar.

XX – Por favor, não me faça lembrar agora o que eu tenho que esquecer... As CRIANÇAS, meu Deus!

XY – SIM, você esqueceu as crianças no carro!

XX – Cadê os MEUS filhos? Me diga logo onde estão os meus filhotes!

XY – Eles ficaram trancados dentro da porra do teu carro durante horas...

XX – Não, meus filhos não! Eu tenho que protegê-los dos abutres, tenho que devorar minhas crias, livrar eles do perigo!

XY – Era um dia quente aquele, muuuito quente.

XX – Vem comigo, vem! Me ajude a salvar os nosso pequenos!

XY – É tarde... Você não vê? Tarde d+ e a noite já apagou o dia!

XX – Olha só, veja!

XY – O quê?

XX – As paredes... Elas estão se fechando, elas querem me triturar viva. Me dá a mão, por favor! Não seja cruel comigo! Pelo menos agora, não!

XY – Eu estou aqui, meu bem! Pode deixar que eu te protejo dessas paredes, das aves de rapina, do mundo que se partiu ao meio e de todo o resto que se derrete pelos pólos.

XX – Eu preciso dormir...

XY – Isso mesmo... Tente dormir!

XX – Eu gosto quando o sono vem e me leva pra voar com ele pela noite...

XY – Continue fugindo da claridade, meu bem... O escuro é bem + seguro pra você!

XX – Nunca tente alterar a sequência das coisas! Nunca altere a sequência...

BLACKOUT





















PS: A montagem desse texto teatral só pode acontecer com a prévia autorização do AUTOR da obra.

E-MAILs para CONTATOS:
zencomentarios@yahoo.com.br
zensacional@hotmail.com

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

1, 26





















"1, 26" foi desenvolvida para o site: http://www.teatroparaalguem.com.br/2010/10/126/

DRAMATURGIA: Zen Salles

ELENCO: Bárbara Bruno, Rafael Carvalho e Rui Xavier

DIREÇÃO DE FOTOGRAFIA: Andréa Lucas Alcaraz e Nelson Kao

FOTOS: Alessandra Fratus

DIREÇÃO GERAL: Lucianno Maza


Personagens:
#MÃE (+ ou – 50 anos de idade)
#FILHO A (pouco + de 30 anos)
#FILHO B (pouco – de 30)

MÃE olha com nojo a ÚLTIMA página de um JORNAL.

MÃE – Não, meus filhos! A última página do jornal, não! Geralmente são notícias tão...

MÃE sente náuseas, quase vomita e folheia rapidamente cada página do jornal, indo da última até a PRIMEIRA página.

MÃE – Ahhh... Olha só essa manchete aqui de primeira página!

FILHO A e FILHO B bebem VINHO tinto.

FILHO A – Ela acordou!

FILHO B – Do coma?

FILHO A – E voltou a dormir logo depois.

MÃE (lendo a primeira página do jornal) – “Tremor na TERRA reduz duração dos dias”.



















FILHO B – Mas o que foi que o médico dela disse?

FILHO A – Ele disse apenas que é muito raro acontecer esse tipo de coisa.

FILHO B – Sei...

MÃE (para de ler o jornal) – Peraí! Hoje é domingo de PÁSCOA, não é? É sagrado o almoço na casa do meu filho (aponta para o FILHO A) mais velho...

FILHO A (oferece vinho para o irmão) – Quer mais?

FILHO B – Só se for agora!

MÃE – Quem gostava desses almoços em família era o pai deles... Todo mundo assim, comendo, bebendo...

FILHO A coloca mais vinho tinto na taça de FILHO B.

MÃE – Mas quando o coração do pai deles parou, eles ficaram tão arrasados... Eu tive que ser uma fortaleza, como eu fui forte pra não deixar meus filhos desabarem!

MÃE interrompe-se, cala-se por alguns segundos, olha aflita para os dois FILHOS.

MÃE – Hei, meus filhos! Quem é que tá preparando o almoço de Páscoa pra vocês, hein? Sempre fui eu que preparei tudo sozinha!

Os FILHOS não respondem nada para MÃE, apenas bebem o vinho.

FILHO B – Huuum! Esse vinho não é chileno, não... O bagulho é francês mesmo!

FILHO A – Hoje é Páscoa, meu irmão... É dia de celebrar a VIDA!

FILHOS brindam.

MÃE – Dessa vez, eu não estou preparando o almoço de Páscoa pros meus filhotes como de costume. E nem poderia fazer isso por que...

FILHO B – Puta que pariu! E não é que hoje tá fazendo exatamente 40 dias...

FILHO A – Você não vai querer ficar lembrando disso agora, né?

MÃE – A Nicinha também... É, a minha filha do MEIO... Ela só não tá aqui, com os irmãos dela, porque ela...

FILHO B – Putz, desculpa, foi mal! Mas é que... Aconteceu tanta coisa de lá pra cá, tudo tão rápido...

MÃE – Os dias estão cada vez mais curtos... Tá aqui, ó! (mostrando o jornal) E não vale a pena ficar desperdiçando o tempo com notícias de...

MÃE cala-se, folheia o jornal da primeira página até a última.



















Com uma expressão desconfiada, FILHO A se aproxima de FILHO B.

FILHO A – Você tá querendo me dizer alguma coisa!

FILHO B – Eu?

MÃE – Última página! Como eu ODEIO as notícias de última página!

FILHO A – Eu te conheço... Vai, desembucha! Diz logo o que você tem pra me dizer!

FILHO B – Não é nada, não! É que eu... Eu... Eu só tô querendo saber mesmo como anda as investigações sobre o que aconteceu naquele dia.

FILHO – Já te disse que tá tudo tranquilo, não disse? Eu estou acompanhando tudo de perto.

FILHO B – Mas o delegado não te falou mais nada...?

FILHO A – Fala BAIXO!

MÃE – NÃO! Eu não vou falar BAIXO! Eu não posso mais ficar assim, apenas vendo tudo de longe! Eu preciso DESENTALAR!



















FILHO B – Calma!

FILHO A – Calma é o cacete! Você fala demais... E sempre na hora errada!

FILHO B – Tá bom, tá bom... Não se toca mais nesse assunto!

Os FILHOS voltam a beber vinho tinto, tentam disfarçar a tensão.

MÃE – Eu não me importo mais que isso aqui seja notícia de última página. Eu tenho que dizer, eu quero falar AGORA!!!

FILHO B – Na verdade, o que eu tenho pra te dizer é que...

FILHO A – FALA!

FILHO B – Ele me procurou.

FILHO A – Hã?

FILHO B – Pediu MAIS grana.

FILHO A – Você deu?

FILHO B – E tu queria que eu fizesse o quê?

MÃE volta a olhar a última página do jornal com muita repulsa e nojo.

MÃE – Terça-Feira de Carnaval... Meu filho caçula me convidou...

FILHO B – A senhora nem gosta de carnaval, mãe! Vai ficar aí sozinha na cidade, no meio dessa puta barulheira... Vem pra fazenda, vem!

FILHO A – Poxa, mãe... Pra mim não vai dar, não vou ter folga do trabalho nem no carnaval. Por que a senhora não vai com a Nicinha?

MÃE – A Nicinha veio me buscar, pegamos a estrada, tudo andando tão bem...

FILHO A (avança em cima do irmão) – Eu te disse que aquele cara não era de confiança!

FILHO B – Ele NÃO vai mais encher o nosso saco!

FILHO A – E quem que te garante isso?

MÃE – Meu Deus... Tinha um animal morto na pista, atravessado no meio do nosso caminho. Nicinha teve que parar o carro e...

MÃE tapa seus ouvidos com as mãos.

Ouve-se de longe o som de DOIS tiros.




















MÃE – Peguem ELE, meus filhos! Foi ELE, foi ELE!!!

FILHO B – Eu tinha uma grana aí... Dei tudo pra ele.

FILHO A – Ele vai pedir mais, muito mais... Você conhece melhor do que ninguém essa corja de escrotos!

FILHO B – Se ele voltar a nos perturbar eu sei como dar um jeito nele.

MÃE – Deu em tudo que foi jornal no dia seguinte... Logo eu, ali, estampada na ÚLTIMA página!

FILHO B – Só que, pra tirar de uma vez por todas aquele sacana do nosso rastro, eu vou precisar de mais grana...

FILHO A – Mais grana? Como assim? Depois de todo o dinheiro que eu já te dei?

FILHO B – E a grana do SEGURO de VIDA da mamãe? Tu já foi...

FILHO A – Claro que NÃO, porra!

FILHOS se encaram por um tempo, respiram fundo, tentam se controlar.

FILHO A – Agora não é HORA de mexer nessa grana do seguro. Deixa a poeira baixar mais um pouco...

FILHO B – Tu tá certo! Cada coisa no seu TEMPO.

MÃE – A Nicinha escapou por pouco, muito pouco. Tadinha da minha filha... Tá lá agora na UTI, com todos aqueles aparelhos e cabos enfiados pelo corpo.

FILHOS voltam a beber, bebem muito, cada vez mais. Seus olhares se encontram, a tensão é patente.

FILHO A – Que foi agora, hein?

FILHO B – Nada! Só tava pensando na Nicinha...

FILHO A – O quê que tem a Nicinha?

FILHO B – Ah, sei lá... Se ela acordar de novo? Será que ela vai lembrar de tudo...?

FILHO A – Cala a BOCA, caralho! A Nicinha não vai acordar de COMA nenhum!

MÃE – Pois eu digo que SIM, seus FILHOS de uma grandíssima PUTA!

Nesse exato instante, FILHOS jogam VINHO tinto na cara da MÃE.



















MÃE se recompõe do "banho" de vinho que acabou de tomar e começa a (re)agir com uma elegância forçada.

MÃE – Podem esperar o tempo que for, meus filhinhos... Mas a Nicinha vai sair daquela UTI nem que seja preciso eu arrancar ela de lá com as minhas próprias e bem tratadas mãozinhas!

FILHOS enchem novamente suas taças com VINHO tinto.

FILHO A – Pega mais, vai!

FILHO B – Isso, meu irmãozinho! Enche a taça do teu mano aqui que, como você mesmo já disse, hoje é dia de celebrar a VIDA!

MÃE pega o jornal e lê com extremo prazer a sua manchete principal.

MÃE – Vejam só, meus filhos, essa notícia aqui de primeira página: “após terremoto no Chile, cientistas afirmam que duração dos dias na Terra é reduzida em 1,26 microssegundo”.

FILHOS brindam + uma vez.

TO BE CONTINUED…





















"1, 26" no YouTUBE: http://www.youtube.com/watch?v=Q8Kdo57fDUs

PS: A montagem desse texto teatral só pode acontecer com a prévia autorização do AUTOR da obra.

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quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

JET LAG





















"JET LAG" foi apresentado pela primeira vez no dia 27 de Novembro na Tenda do DRAMAMIX das SATYRIANAS 2010.

AUTOR: ZEN SaLLes

ELENCO: Luciana Canton & Luciana Gonçalves

DIREÇÃO: Dan Rosseto

FOTOS: Giorgio D´Onofrio

Personagens:
#MANU
#GABI

PS: os asteriscos que separam as cenas dessa peça significam um TEMPO que tanto pode ser PASSADO = PRESENTE = FUTURO.


******

MANU entra em CENA carregando uma MALA.

GABI está encolhida em seu canto e observa cada passo de MANU.

MANU anda com PASSOS pesados, ela está visivelmente CANSADA, como quem acaba de chegar de uma longa VIAGEM.

GABI se levanta do seu canto, se aproxima de MANU e as duas ficam um bom tempo apenas se reconhecendo.




















GABI – Por que você veio?

MANU – Eu tinha que vir.

GABI – Você NÃO devia ter vindo!

MANU – Mas é que eu...

GABI – Devia ter esquecido que eu EXISTO!

MANU – IMPOSSÍVEL! Eu ainda escuto os... GRITOS!

MANU larga a MALA no chão, tenta DESCANSAR, mas o seu DESCONFORTO é ainda MAIOR.

GABI pega a mala de MANU, abre e começa a remexer em TUDO que está lá dentro.


MANU – Você continua a mesma CURIOSA de sempre, né?

GABI – Tua mala, tua roupa, esse teu cheiro... É tudo tão MEU!



















******

MANU – Eu não sei como a mamãe pode deixar que você viaje assim, sozinha.

GABI – Ai dela se tentar me impedir.

MANU – Você NUNCA saiu daqui.

GABI – E daí?

MANU – Se eu fosse a mamãe, eu JAMAIS permitiria.

GABI – Pois se ela não fizer o que eu quero, eu conto pra todo mundo o que aquele gigolôzinho dela andou aprontando comigo.

MANU – Isso não se faz, Gabi!

GABI – Eu tava aqui no meu canto, foi ele que veio encher o saco!

MANU – Vc não devia ter dado TRELA praquele filho da PUTA.

GABI – Ah, eu até que me diverti com ele...

MANU – Hã?

GABI – Ele FODE bem, Manu! O amante garotão da nossa mãezinha METE bem pra cacete!

MANU tapa seus ouvidos com as MÃOS.

MANU – Os GRITOS!

GABI – Mas que gritos?

MANU – Vc não tá ouvindo?

GABI – Eu não!

MANU (aponta pra baixo) – Eles vêm dali, ó, do porão!

******

GABI (tb apontando pra baixo) –
Vc disse que tinha um buraco ali dentro...

MANU (distante) – Não sei como pode caber tanta gente...

GABI – Um buraco beeem fundo.

MANU – Mas eu nunca estive num lugar tão fascinante como lá.



















******

GABI – Mamãe já me deu a grana que eu queria...

MANU – Sua CHANTAGISTA!

GABI – Toda a grana que eu preciso pra rodar esse mundão!

MANU – Queria tanto ter essa tua coragem...

GABI – Não vejo a hora de sair desse cuzinho de lugar aqui...

MANU – ...e essa tua cara de PAU tb!

GABI – E viajar por todos os continentes, fronteiras, mares... Uhuuu!

MANU – E eu, hein? Vou ficar aqui, no meio do NADA? Dividindo o mesmo espaço com uma mãe otária que banca as cafajestagens de um parasita tarado que quer foder com todo mundo dessa família?

GABI – Já pensou... Eu lá, me derretendo sobre a NEVE do monte FUJI!

MANU – NÃO! Eu é que NÃO vou ficar aqui nessa bosta de lugar, enquanto vc vira o MUNDO de cabeça pra baixo!!!

MANU tapa os ouvidos.

GABI – Que foi, Manu?

MANU – Os GRITOS de novo.

GABI – Mas não tem ninguém gritando aki, sua maluca!

MANU – São eles... Lá embaixo!!!

******

GABI desarruma ferozmente as roupas da MALA de MANU.

GABI –
Ninguém NUNCA gritou ali dentro!

MANU – Tirei um mooonte de fotos das Gothic Lolitas...

GABI – Foi TUDO invenção TUA!

MANU – ...aquelas japonesinhas que + parecem bonecas de porcelana saídas de algum MANGÁ.



















GABI – Sua PUTA!

MANU – Elas vivem se exibindo no bairro de Harajuku.

GABI – ESCROTA!

MANU – Ouvi dizer que algumas delas até fazem programas com turistas ocidentais.

GABI – Eu é quem devia tá lá, viu!

******

MANU –
Se você chegar + perto, vai conseguir ouvir os gritos que vem do OUTRO lado...

GABI – Do OUTRO lado?

MANU – É... Do OUTRO lado do MUNDO!

GABI coloca um dos ouvidos no chão.

GABI – Mas eu juro que não consigo escutar nada!

MANU – Abre aí, vai!

GABI puxa uma espécie de porta no chão que dar para o PORÃO.

GABI –
Meu Deus! Isso aqui tá tão escuro...

MANU – Se aproxima +, Gabi!

GABI – Não...

MANU – Cadê a tua coragem, hein? Esse teu espírito aventureiro que nunca cansa?

Aos poucos, GABI vai se aproximando do PORÃO/BURACO.

MANU –
Parece tão fundo aqui.

MANU – É bem fundo mesmo!

GABI – Como você sabe?

MANU – É que eu... Eu já estive lá!

MANU empurra GABI no fundo do PORÃO.

GABI solta um GRITO que não cala jamais.

******

GABI –
Esse porão NÃO tem FUNDO nenhum!

MANU – Todos aqueles letreiros e telões de altíssima definição...

GABI – Eu cair lá dentro... E fui caindo, caindo, caindo...

MANU – Os hotéis-cápsula de Shibuya.

GABI – ...até chegar do OUTRO lado.

MANU – Vc acredita que o trem-bala vai de Tóquio até Osaka numa velocidade de + de 300 km/h!?!?

GABI – O Japão não é tão longe assim, Manu!



















MANU – Eu sei... Já fui lá vááárias vezes, sua idiota!

GABI (aponta pro porão) – O Japão fica logo ali...

MANU – E eu fui no TEU lugar!

GABI – ...do OUTRO lado do mundo!

******

GABI fecha a MALA e a devolve pra MANU.

GABI –
Vai embora, vai!

MANU – Voo 1-2-4-7 com destino a Tóquio... Embarque no Portão NOVE!

GABI – Finge que eu NÃO existo + e me deixa aqui, caindo, caindo, caindo...

MANU pega sua MALA e sai de CENA ao som de “Sweet Dreams” by Marilyn Manson.

GABI volta pro seu canto e fica lá, com as MÃOS tapando seus ouvidos.

Já não há + nenhum GRITO vindo lá do OUTRO lado do MUNDO.












終り















PS: A montagem desse texto teatral só pode acontecer com a prévia autorização do AUTOR da obra.

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terça-feira, 3 de janeiro de 2012

BÍLIS





















"BÍLIS" foi apresentada pela primeira vez no DRAMAMIX das SATYRIANAS 2009, no dia 31/11, às 05:00h, São Paulo - BRAZIL

ELENCO: Fernanda Sanches & Thiago Mantovanni.

DIREÇÃO: Lucas Sancho

DRAMATURGIA: ZeN SaLLes


Peça TEATRAL gerada após um surto de BULIMIA nervosa!!!

PERSONAGENS:
#ELA
#ELE


Cinco HORAS da MADRUGA...

ELE está ajoelhado bem próximo de uma PRIVADA e provoca o VÔMITO enquanto fala.


ELE – Você já sonhou aquele tipo de sonho onde você tenta falar e a tua voz simplesmente não consegue sair da boca? Daí você acorda no meio da madrugada com a garganta seca e te dá uma puta vontade de dizer tudo que tá te amargando por dentro. Mas não tem ninguém do teu lado, ninguém pra te ouvir, pra trocar uma idéia contigo. E a tua garganta continua seca...

ELE começa a VOMITAR... Vomita horrores... Vomita até a BÍLIS!!!

ELA chega pisando poderosamente no seu SALTO duplo twist carpado.


















ELA –
Você ME fez isso de novo?

ELE – Eu... Eu precisava te ver...

ELA – Me vomitou no chão desse lugarzinho nojento?

ELE – Mas é a única forma que eu tenho pra te ter aqui comigo.

ELA pega a cabeça dELE e “mergulha” dentro da PRIVADA.

ELA –
Seu ESCROTO de merda!

ELE (tossindo muito, engasgado pela água da privada) – Eu... Eu tinha certeza que você não ia me deixar na mão...

Novamente, ELA enfia a cabeça dELE dentro da PRIVADA.

ELA –
Tá pensando que eu sou o quê, hein? Todo dia agora é a mesma bosta, é? Você enfia a porra do dedo nessa tua goela fodida e sou eu que tenho que aguentar as tuas nóias?

ELE – Ainda bem que você sempre vem toda vez que eu te chamo...

ELA – Filho da PUTA!

Cada vez + violenta, ELA mergulha repetidas vezes a cabeça dELE na PRIVADA.

ELA se diverte bastante com essa sessão de TORTURA.

ELE também se esbalda de PRAZER.

ELA –
Pra quê ficar se prendendo, se trancando, contraindo as amídalas, né, seu bostinha!? Quando eu venho, eu chego chegando, botando pra FODER geral!

ELA solta a cabeça dELE, que TOSSE muito, quase afogado pela água da privada.

Totalmente satisfeita com o joguinho S&M, ELA solta um risinho debochado, um riso que vai se descontrolando aos poucos, até se transformar num SURTO de gargalhadas.

Já quase recomposto da sua crise de tosse, ELE se arrasta até ELA e começa a beijar o seu saltão 15.


ELA – Precisava mesmo me fazer vir até aqui?

ELE – Mas eles me levaram tudo...

ELA – Eles quem?

ELE – Não lembro da cara deles, não lembro de mais nada.

ELA – Ah, qual é, hein? Deletou tudo da memória? Amnésia alcoólica, é, gato?

ELA chuta a cara dELE, que volta a se esparramar no chão.

ELA – Me conta tudo, seu puto! TUDO, viu! Agora eu quero te ouvir!

SOM estourado de e-music.

Como em um transe, ELA dança alucinadamente.

Ajoelhado, ELE agarra as pernas dELA, mas ELA se desvencilha dELE.


ELE – Eu comecei a gritar, gritei muito no meio daquela gente toda, mas ninguém conseguia me ouvir!

ELA – Fala mais alto, que eu não tô te ouvindo!

ELE se levanta e agarra a cintura dELA firmemente.


















ELE – Você não me escuta? Ninguém tá me escutando? Quem é que vai me escutar nesse inferninho de fim de noite?

ELA – Repete, vai, que eu não te escutei! Tá muito baixo, fala mais alto, porra!

ELE mexe a boca repetidas vezes, mas não sai nada, nenhuma palavra. Desesperado, ELE toca na sua garganta como se quisesse tirar algo de dentro.

ELA continua dançando loucamente e se divertindo muito com o desespero dELE.

ELA –
Isso, gato! Grita, escancara, esculacha! One more time... Se joga, vai! Arrasa, bee!

As batidas da e-music estão no TALO, o barulho é absurdamente ALTO.

ELE coloca as duas mãos nos ouvidos, entra em CONVULSÃO.

ELA dança cada vez +, dá bafão na pista de dança, bate cabelo alucinadamente, incorpora Alôca.


BLACKOUT

Gritos, muitos GRITOS.

LUZ.


ELE – Todo aquele barulho sumiu, apagaram as luzes, não deu pra ver mais nada... Tudo escuro, muito escuro! Eu só senti as mãos, as unhas, os braços, os dentes... Me jogaram na parede, me comeram por trás, fizeram o DIABO com a minha CARNE. Mas eu não vi nada... Tava muito escuro. E o barulho também se calou, nenhum gemido, nenhum pio sequer... Cadê você, meu anjo caído? Me tira daqui, vai! Vem logo que eu detesto o ESCURO e odeio o SILÊNCIO!

ELA se aproxima dELE e, com uma estranha COMPAIXÃO, coloca a cabeça dELE no seu COLO.


















ELA – Bem que eles podiam ter vampirizado todo o teu sangue...

ELE – Mas eles fizeram isso!

ELA – E a tua porra?

ELE – Eles sugaram todo o meu TESÃO.

ELA – E eles também chuparam a tua medula?

ELE – Comeram meu fígado, morderam a minha jugular, desidrataram as minhas lágrimas, o meu corpo, todos os meus sentidos...

ELA – Então não te sobrou mais NADA?

ELE – Não... Só VOCÊ!

ELA o empurra no chão, monta em cima dELE.

ELA – As noites amanhecidas pela insônia, uma balinha de ecstasy só pra esquentar o sangue já fervido, a garrafa de whisky pela metade, a cara empapuçada de deliciosos excessos, uma ressaca te pedindo a morte... Mas é a garganta quem GRITA te querendo mais, a coisa vai detonando lá dentro até que ó, BUUUM! E vem tudo pra fora, lavas e + lavas de desejo vomitado no chão... Daí o fígado libera aquela coisa amarga, esverdeada, gosmenta, que vem melar a tua noite mal-dormida... E te diz: CHEGA, caralho! Você já deu tudo o que tinha que dar... Por hoje BASTA, viu!

ELA rasga a roupa dos dois e começa a foder com ELE.

BLACKOUT

Som de GEMIDOS fortes.

LUZ.

Agora é ELE quem estar por CIMA dELA.

Os dois estão completamente despidos.


ELE – Como eu gosto de te ver assim, derramada no meu chão...

ELA – Pois eu odeio quando você me chama, me cutucando por dentro de si mesmo!

ELE chupa a própria BÍLIS com muito TESÃO.

BLACKOUT

Ouve-se apenas o GRITO desesperado dELA.

LUZ.

ELE está agora sozinho, ELA sumiu, há apenas a GOSMA verde vomitada e derramada pelo chão.

ELE
– Às vezes eu calo, calo mesmo... Um calo na garganta de tanto ficar calado, me segurando por dentro. Mas ELA vem, com o seu gosto de azeitona que sobrou no canto do prato, mastigada e chupada, o meu último gole da madrugada, o meu primeiro bocejo ressacado pra um dia que eu não faço a menor questão de ver nascendo.

ELE se aproxima da GOSMA esverdeada que vai se evaporando aos poucos.

ELE -
Volta, meu amor... Volta pra DENTRO de mim, vai!

ELE apenas respira aquele vapor barato, se deliciando nesse ritual, enquanto a LUZ vai caindo sem a menor reistência.

























PS: A montagem desse texto teatral só pode acontecer com a prévia autorização do AUTOR da obra.

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segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

On $ALE






















PERSONAGENS:
#CADU
#CAZÉ

Peça TEATRAL dividida em 06 PARCELAS sem JUROS

"On $ALE" foi apresentada pela primeira vez em 26 outubro no DRAMAMIX das SATYRIANAS 2008.

AUTOR: Zen Salles

DIREÇÃO & ELENCO: Marcelo Jacob e Felipe Estevan

FOTOS: Paola Tonelli




















PRIMEIRA PARCELA

CAZÉ – A polícia me deu mó baculejo na hora do RAPA, Cadu! Os filhos da puta me levaram toda a mercadoria...

CADU – E agora, Cazé?

CAZÉ – Agora fodeu tudo!

CADU – Putz, meu... Saca o coreano, o dono dessa bosta aqui?

CAZÉ – Quê que tem ele?

CADU – Ele não para de telefonar... Disse que, se a gente não pagar o que tá devendo do aluguel, é melhor dá no pé ou então ele fode com a gente de vez... Eu já consegui a minha parte do combinado... Tá aqui a grana, ó!

CAZÉ – Mas eu não tenho nenhum puto no bolso, Cadu... Eu não tenho mais NADA!

CADU – Por que tu não vem comigo, Cazé?

CAZÉ – Pra onde, cara?

CADU – Ah, tu sabe muito bem pra onde...

CAZÉ – NÃO!!!

CADU – Deixa de ser otário... A grana lá é boa, muito melhor do que ficar vendendo muamba na rua e fugindo da polícia o tempo inteiro.

CAZÉ – Já disse que NÃO!

CADÚ - Vem comigo, Cazé, vem!

CAZÉ - Nem fodendo, viu!


SEGUNDA PARCELA

CADU está de quatro e se contorce de dor.

CAZÉ apenas olha pra CADU sem saber o que fazer.

CADU –
Para de ficar só me olhando, cacete!

CAZÉ - Mas tu quer que eu faça o quê, porra?

CADU - Sei lá, véi... Passa gelo, assopra, mas faz alguma coisa!

CAZÉ – Puta que pariu, Cadu! Como é que tu deixa uma bicha velha arrombar o teu rabo assim, mano?

CADU – Ah, véi... Ele me disse que era só um fio-terra de leve...

CAZÉ – Fio-terra, mano?

CADU – É... Daí ele jogou duas notas de cinquenta na minha cara e eu já fui entrando no jogo dele. Ele também me deu um bagulho pra cheirar e, quando eu me dei conta, o viado filho da puta já tava com a metade do braço enfiado dentro do meu cú.

CAZÉ – E por que tu não caiu de porrada nessa maricona, cara?

CADU – Eu só pensei no cachê, véi. Toda vez que o viado metia o braço no meu rabo, ele jogava uma “onça” na minha cara.

CAZÉ – Onça?

CADU – É... Cinquentão, saca?

CAZÉ – Ah...

CADU – Pois é, véi! Com tanta onça que essa bichona jogou em cima de mim, acho que vai dar até pra comprar uma moto que eu já tô de olho há um tempão...

CAZÉ - Moto?

CADU - Zero bala, véi! Novinha em folha!

CAZÉ – Jura?

CADU – Sem JUROS!

TERCEIRA PARCELA

CADU –
Eu vi no jornal da tevê... Repetiram as imagens uma pá de vezes!

CAZÉ – Tu tá de sacanagem comigo, num tá, mano?

CADU – Tu acha mesmo que eu ia brincar com uma parada dessa, Cazé?

CAZÉ - Isso não pode ser verdade.

CADU - Eles mostraram tudo, tudinho... Passou tu e aqueles outros que ficam lá no centrão só catando carteira de tiozinho mané.

CAZÉ – Caralho... Agora fodeu tudo mesmo!!!

CADU – Eu te disse pra tu não se meter com aqueles caras, não te disse? Mó vacilo teu, véi!

CAZÉ – Ah, qual é, Cadu? Tu vai ficar agora detonando os meus chegados?

CADU – Puta roubada aqueles carinhas... Todo mundo aqui da quebrada sabe que eles são tudo um bando de escrotos.

CAZÉ – E que moral tu tem pra falar dos caras, hã? Fica aí dando o cú pra bicha velha a noite toda e quer agora ficar pagando de santinho do pau oco, é?

CADU – Ah, cala a boca, véi! Tu só faz merda... Por isso que é um fodido, sem grana até pra pagar o que tá devendo pros outros...

CAZÉ – Cala a boca você, viado filho da puta! E não fica se metendo em assunto de homem, não, falô!

CADU – O quê? Repete na minha cara o que tu acabou de dizer, babaca cuzão!

CAZÉ – Não me empurra, cacete!

CADU – Quem é viado aqui, hein? Fala pra tu vê se eu não te quebro, ladrãozinho de bosta, vacilão do caralho!

CAZÉ – Ah, vai tomar nesse teu rabo de cratera, vai, ô seu michê de um 1,99, consolo de bicha da terceira idade...

CAZÉ avança em cima de CADU, eles rolam pelo chão enquanto se esmurram.

CADU domina CAZÉ montando em cima dele.

CADU –
Repete agora o que tu disse aí, filho da puta! REPETE!!!

CAZÉ – Viado de merda!

CAZÉ dá um golpe em CADU e, agora, é ele quem monta em cima do outro.

CADU – Me larga, sai de cima de mim, seu ladrão escroto!

CAZÉ – Eu vou te mostrar quem é ladrão aqui, seu viadinho arrombado!

CAZÉ rasga a roupa de CADU, vira-o de costa e começa meter no rabo dele.

QUARTA PARCELA

CAZÉ –
Foi mal, cara... Não podia ter rolado o que rolou entre a gente ontem.

CADU – Eu nem sei do que tu tá falando, véi... Nem me lembro mais...

CAZÉ – Não lembra, é?

CADU – Já disse que NÃO!!!

CAZÉ – Olha aqui, mano... Se tu tá puto desse jeito só porque eu não paguei o teu cachêzinho de merda, então pode ficar sussa que eu te pago depois, belê!

CADU – Precisa pagar nada não, véi! Eu sei que tu não tem puto nenhum pra pagar o meu preço... Que é bem salgado se tu quer saber...

CAZÉ - Sei...

CADU - Fica como uma amostra grátis, cortesia da casa.

CAZÉ – Puta merda! Tá tudo dando errado, brother. Eu não vim parar nessa porra de cidade pra levar uma vida assim, sem nada, sem ter dinheiro nem pra comprar um churrasquinho de gato pra amansar a larica.

CADU – Pois é, véi... A vida é assim mesmo, ela não te dá nenhum desconto... Tá tudo etiquetado nesse mundo, leva quem paga mais.

CAZÉ – Paga mais, paga mais... Tu só pensa nisso, né? Parece mais uma daquelas máquinas de refri... É só enfiar a porra de uma moeda aí dentro que tá tudo certo, né?

CADU – Moeda de cu é rola, véi! E eu é que num vou ficar aqui perdendo o meu tempo... Tempo é dinheiro e eu tô na promoção!

CADU se prepara pra sair, mas CAZÉ se coloca na frente dele.

CAZÉ – Hei... Tu vai pra onde, hein?

CADU – Dá o meu rabo! Ou tu esqueceu que é assim que eu ganho a vida?

CAZÉ – Não... Peraí!

CADU – Qual é, véi? Diz logo o que tu tem pra dizer e me deixa em paz, falô!

CAZÉ – Tu tem algum troco aí pra me emprestar, mano?

CADU - Pra quê?

CAZÉ - Eu preciso fumar um beck!

CADU - Ah, um beck...

CAZÉ - Se eu não fumar um bagulho agora eu juro que me MATO!!!



















QUINTA PARCELA

CAZÉ –
Não agüento mais ficar de bobeira o dia todo dentro desse muquifo aqui, sem poder dar um rolê na rua, sem poder fazer porra nenhuma pra conseguir um trocado...

CADU – Relaxa, Cazé! Pode deixar que eu... Eu te banco!

CAZÉ – Não, cara! Eu sempre me virei sozinho, nunca precisei ficar encostado em ninguém... Muito menos ser sustentado com...

CADU – Com o quê, hein? FALA! Com dinheiro de cu, né?

CAZÉ – Eu não falei isso.

CADU – Mas pensou!

CAZÉ - Deu pra ler meus pensamentos agora, é?

CADU – Querendo ou não, tu vai ter que aceitar, Cazé! Tu ainda não pode sair na rua, véi... A polícia continua no teu rastro, neguinho ainda não esqueceu da tua cara.

CAZÉ – Mas ficar aqui dentro é pior do que tá numa prisão, mano!

CADU – É o preço da fama, véi... Quem mandou tu aparecer na televisão catando carteira de tiozinho, hein!

CAZÉ – Ah, mano... Tá me tirando, é?

CADU – Sabe de uma coisa?

CAZÉ - O quê?

CADU - Hoje eu vou descolar uma grana do caralho, vai dar pra ficar de boa por uns dois meses, tá ligado!

CAZÉ – Sorte a tua!

CADU – Vou sair com aquela bichona do fio-terra bizarro, lembra?

CAZÉ – Não, Cadu! Não me diga que tu...

CADU – Já é, brow! Ele me ligou oferecendo o dobro do meu cachê... E por esse valor dá até pra encarar a fera de novo sem fazer cara feia.

CAZÉ – Tu pirou, meu? O viado quase detonou com o teu cú daquela vez, tu quase foi parar no hospital!

CADU – Eu tenho que ir, não dá pra ficar jogando dinheiro fora.

CAZÉ – E não tem um outro jeito não?

CADU – Que jeito?

CAZÉ – Ah, sei lá... Um outro programa menos perigoso...

CADU – Até que rola um canal aí... Mas é que teria que rolar com mais um, saca?

CAZÉ - Mas um?

CADU - É... Uma vez um cliente até me perguntou se eu tinha um parceiro ou qualquer coisa assim pra rolar um sexo a três.

CAZÉ – E se tu conseguir um outro cara pra ir junto contigo, será que o cachê triplica?

CADU – Cada um leva a sua parte mas, se o cliente curtir a foda, sempre rola uma gorjetinha por fora.

CAZÉ – Ah, é?

CADU – Peraí, Cazé... Uma vez tu me disse que não entrava nessa parada nem fodendo.

CAZÉ – Ah, mano... Se o cara vai pagar uma puta grana e é de um parceiro que tu tá precisando, então...

CADU – Não, véi! Fica FORA disso!

CAZÉ – Por quê? Lembra que foi tu mesmo que me convidou uma vez!?

CADU – É... Mas naquele tempo o bagulho era diferente

CAZÉ – Diferente?

CADU – Sim, diferente...

CAZÉ – Ah, já sei... Tu tá é com medo da concorrência, né?

CADU – Não é isso, não. Nada a ver!

CAZÉ – E é o quê, então?

CADU – Ah, tu sabe!

CAZÉ – Sei de nada, não!

CADU – Então fica sabendo agora, véi!

CAZÉ - Do quê?

CADU - O que é MEU ninguém vai ficar metendo a mão por aí, não, sacô!

CADU chega junto de CAZÉ e beija na BOCA dele com um puta TESÃO.

SEXTA PARCELA

CADU – O cara era mó filé, né?

CAZÉ – Só achei meio bizonho quando ele pediu pra gente mijar na cara dele enquanto ele gozava.

CADU – Aquilo não foi nada, véi... Já me pediram pra fazer cada coisa cabulosa que, se eu sair contando por aí, neguinho vai achar que é papo de noiado da cabeça!

CAZÉ – Sério???

CADU – E eu faço é mesmo! Posso até sentir nojo, mas eu faço. Quem manda é o cliente, véi... Principalmente quando o cliente paga bem que nem esse carinha que a gente saiu hoje.

CAZÉ – Nooossa, mano! Nem acreditei quando ele abriu a carteira e tirou todas aquelas “onças” de dentro. Fazia mó tempão que eu não sentia o cheiro de dinheiro, me esbaldei...

CADU – Se tu topar de novo, eu até posso descolar uns outros programinhas assim...

CAZÉ – Eu TOPO!!!

CADU - Topa mesmo?

CAZÉ - Mas com uma condição...

CADU - Qual?

CAZÉ - Só faço se for junto contigo!

CADU – Porra, desse jeito não vai dar pra tu ser um michê profissa, né?

CAZÉ - E por quê não?

CADU - Fica botando mó banca aí, só quer fazer se for do teu jeito... Pensa que ser garoto de programa é como passear no shopping? Que vai dar pra ficar escolhendo o produto que vai comprar, é? No WAY, brow! Aqui, o produto é você!

CAZÉ – Eu sei que o buraco é mais embaixo...

CADU - E tu não imagina o tanto que esse buraco é fundo e arrombado, véi!

CAZÉ - Acho que já deu pra mim sacar como as coisas funcionam nesse teu mundinho de "é dando que se recebe"... E eu tô pronto pra encarar as feras, os leões e, principalmente, as ONÇAS!

CADU – Jura mesmo que tá pronto?

CAZÉ – Sem JUROS!!!


















FIM
de
ESTOQUE



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