segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

On $ALE






















PERSONAGENS:
#CADU
#CAZÉ

Peça TEATRAL dividida em 06 PARCELAS sem JUROS

"On $ALE" foi apresentada pela primeira vez em 26 outubro no DRAMAMIX das SATYRIANAS 2008.

AUTOR: Zen Salles

DIREÇÃO & ELENCO: Marcelo Jacob e Felipe Estevan

FOTOS: Paola Tonelli




















PRIMEIRA PARCELA

CAZÉ – A polícia me deu mó baculejo na hora do RAPA, Cadu! Os filhos da puta me levaram toda a mercadoria...

CADU – E agora, Cazé?

CAZÉ – Agora fodeu tudo!

CADU – Putz, meu... Saca o coreano, o dono dessa bosta aqui?

CAZÉ – Quê que tem ele?

CADU – Ele não para de telefonar... Disse que, se a gente não pagar o que tá devendo do aluguel, é melhor dá no pé ou então ele fode com a gente de vez... Eu já consegui a minha parte do combinado... Tá aqui a grana, ó!

CAZÉ – Mas eu não tenho nenhum puto no bolso, Cadu... Eu não tenho mais NADA!

CADU – Por que tu não vem comigo, Cazé?

CAZÉ – Pra onde, cara?

CADU – Ah, tu sabe muito bem pra onde...

CAZÉ – NÃO!!!

CADU – Deixa de ser otário... A grana lá é boa, muito melhor do que ficar vendendo muamba na rua e fugindo da polícia o tempo inteiro.

CAZÉ – Já disse que NÃO!

CADÚ - Vem comigo, Cazé, vem!

CAZÉ - Nem fodendo, viu!


SEGUNDA PARCELA

CADU está de quatro e se contorce de dor.

CAZÉ apenas olha pra CADU sem saber o que fazer.

CADU –
Para de ficar só me olhando, cacete!

CAZÉ - Mas tu quer que eu faça o quê, porra?

CADU - Sei lá, véi... Passa gelo, assopra, mas faz alguma coisa!

CAZÉ – Puta que pariu, Cadu! Como é que tu deixa uma bicha velha arrombar o teu rabo assim, mano?

CADU – Ah, véi... Ele me disse que era só um fio-terra de leve...

CAZÉ – Fio-terra, mano?

CADU – É... Daí ele jogou duas notas de cinquenta na minha cara e eu já fui entrando no jogo dele. Ele também me deu um bagulho pra cheirar e, quando eu me dei conta, o viado filho da puta já tava com a metade do braço enfiado dentro do meu cú.

CAZÉ – E por que tu não caiu de porrada nessa maricona, cara?

CADU – Eu só pensei no cachê, véi. Toda vez que o viado metia o braço no meu rabo, ele jogava uma “onça” na minha cara.

CAZÉ – Onça?

CADU – É... Cinquentão, saca?

CAZÉ – Ah...

CADU – Pois é, véi! Com tanta onça que essa bichona jogou em cima de mim, acho que vai dar até pra comprar uma moto que eu já tô de olho há um tempão...

CAZÉ - Moto?

CADU - Zero bala, véi! Novinha em folha!

CAZÉ – Jura?

CADU – Sem JUROS!

TERCEIRA PARCELA

CADU –
Eu vi no jornal da tevê... Repetiram as imagens uma pá de vezes!

CAZÉ – Tu tá de sacanagem comigo, num tá, mano?

CADU – Tu acha mesmo que eu ia brincar com uma parada dessa, Cazé?

CAZÉ - Isso não pode ser verdade.

CADU - Eles mostraram tudo, tudinho... Passou tu e aqueles outros que ficam lá no centrão só catando carteira de tiozinho mané.

CAZÉ – Caralho... Agora fodeu tudo mesmo!!!

CADU – Eu te disse pra tu não se meter com aqueles caras, não te disse? Mó vacilo teu, véi!

CAZÉ – Ah, qual é, Cadu? Tu vai ficar agora detonando os meus chegados?

CADU – Puta roubada aqueles carinhas... Todo mundo aqui da quebrada sabe que eles são tudo um bando de escrotos.

CAZÉ – E que moral tu tem pra falar dos caras, hã? Fica aí dando o cú pra bicha velha a noite toda e quer agora ficar pagando de santinho do pau oco, é?

CADU – Ah, cala a boca, véi! Tu só faz merda... Por isso que é um fodido, sem grana até pra pagar o que tá devendo pros outros...

CAZÉ – Cala a boca você, viado filho da puta! E não fica se metendo em assunto de homem, não, falô!

CADU – O quê? Repete na minha cara o que tu acabou de dizer, babaca cuzão!

CAZÉ – Não me empurra, cacete!

CADU – Quem é viado aqui, hein? Fala pra tu vê se eu não te quebro, ladrãozinho de bosta, vacilão do caralho!

CAZÉ – Ah, vai tomar nesse teu rabo de cratera, vai, ô seu michê de um 1,99, consolo de bicha da terceira idade...

CAZÉ avança em cima de CADU, eles rolam pelo chão enquanto se esmurram.

CADU domina CAZÉ montando em cima dele.

CADU –
Repete agora o que tu disse aí, filho da puta! REPETE!!!

CAZÉ – Viado de merda!

CAZÉ dá um golpe em CADU e, agora, é ele quem monta em cima do outro.

CADU – Me larga, sai de cima de mim, seu ladrão escroto!

CAZÉ – Eu vou te mostrar quem é ladrão aqui, seu viadinho arrombado!

CAZÉ rasga a roupa de CADU, vira-o de costa e começa meter no rabo dele.

QUARTA PARCELA

CAZÉ –
Foi mal, cara... Não podia ter rolado o que rolou entre a gente ontem.

CADU – Eu nem sei do que tu tá falando, véi... Nem me lembro mais...

CAZÉ – Não lembra, é?

CADU – Já disse que NÃO!!!

CAZÉ – Olha aqui, mano... Se tu tá puto desse jeito só porque eu não paguei o teu cachêzinho de merda, então pode ficar sussa que eu te pago depois, belê!

CADU – Precisa pagar nada não, véi! Eu sei que tu não tem puto nenhum pra pagar o meu preço... Que é bem salgado se tu quer saber...

CAZÉ - Sei...

CADU - Fica como uma amostra grátis, cortesia da casa.

CAZÉ – Puta merda! Tá tudo dando errado, brother. Eu não vim parar nessa porra de cidade pra levar uma vida assim, sem nada, sem ter dinheiro nem pra comprar um churrasquinho de gato pra amansar a larica.

CADU – Pois é, véi... A vida é assim mesmo, ela não te dá nenhum desconto... Tá tudo etiquetado nesse mundo, leva quem paga mais.

CAZÉ – Paga mais, paga mais... Tu só pensa nisso, né? Parece mais uma daquelas máquinas de refri... É só enfiar a porra de uma moeda aí dentro que tá tudo certo, né?

CADU – Moeda de cu é rola, véi! E eu é que num vou ficar aqui perdendo o meu tempo... Tempo é dinheiro e eu tô na promoção!

CADU se prepara pra sair, mas CAZÉ se coloca na frente dele.

CAZÉ – Hei... Tu vai pra onde, hein?

CADU – Dá o meu rabo! Ou tu esqueceu que é assim que eu ganho a vida?

CAZÉ – Não... Peraí!

CADU – Qual é, véi? Diz logo o que tu tem pra dizer e me deixa em paz, falô!

CAZÉ – Tu tem algum troco aí pra me emprestar, mano?

CADU - Pra quê?

CAZÉ - Eu preciso fumar um beck!

CADU - Ah, um beck...

CAZÉ - Se eu não fumar um bagulho agora eu juro que me MATO!!!



















QUINTA PARCELA

CAZÉ –
Não agüento mais ficar de bobeira o dia todo dentro desse muquifo aqui, sem poder dar um rolê na rua, sem poder fazer porra nenhuma pra conseguir um trocado...

CADU – Relaxa, Cazé! Pode deixar que eu... Eu te banco!

CAZÉ – Não, cara! Eu sempre me virei sozinho, nunca precisei ficar encostado em ninguém... Muito menos ser sustentado com...

CADU – Com o quê, hein? FALA! Com dinheiro de cu, né?

CAZÉ – Eu não falei isso.

CADU – Mas pensou!

CAZÉ - Deu pra ler meus pensamentos agora, é?

CADU – Querendo ou não, tu vai ter que aceitar, Cazé! Tu ainda não pode sair na rua, véi... A polícia continua no teu rastro, neguinho ainda não esqueceu da tua cara.

CAZÉ – Mas ficar aqui dentro é pior do que tá numa prisão, mano!

CADU – É o preço da fama, véi... Quem mandou tu aparecer na televisão catando carteira de tiozinho, hein!

CAZÉ – Ah, mano... Tá me tirando, é?

CADU – Sabe de uma coisa?

CAZÉ - O quê?

CADU - Hoje eu vou descolar uma grana do caralho, vai dar pra ficar de boa por uns dois meses, tá ligado!

CAZÉ – Sorte a tua!

CADU – Vou sair com aquela bichona do fio-terra bizarro, lembra?

CAZÉ – Não, Cadu! Não me diga que tu...

CADU – Já é, brow! Ele me ligou oferecendo o dobro do meu cachê... E por esse valor dá até pra encarar a fera de novo sem fazer cara feia.

CAZÉ – Tu pirou, meu? O viado quase detonou com o teu cú daquela vez, tu quase foi parar no hospital!

CADU – Eu tenho que ir, não dá pra ficar jogando dinheiro fora.

CAZÉ – E não tem um outro jeito não?

CADU – Que jeito?

CAZÉ – Ah, sei lá... Um outro programa menos perigoso...

CADU – Até que rola um canal aí... Mas é que teria que rolar com mais um, saca?

CAZÉ - Mas um?

CADU - É... Uma vez um cliente até me perguntou se eu tinha um parceiro ou qualquer coisa assim pra rolar um sexo a três.

CAZÉ – E se tu conseguir um outro cara pra ir junto contigo, será que o cachê triplica?

CADU – Cada um leva a sua parte mas, se o cliente curtir a foda, sempre rola uma gorjetinha por fora.

CAZÉ – Ah, é?

CADU – Peraí, Cazé... Uma vez tu me disse que não entrava nessa parada nem fodendo.

CAZÉ – Ah, mano... Se o cara vai pagar uma puta grana e é de um parceiro que tu tá precisando, então...

CADU – Não, véi! Fica FORA disso!

CAZÉ – Por quê? Lembra que foi tu mesmo que me convidou uma vez!?

CADU – É... Mas naquele tempo o bagulho era diferente

CAZÉ – Diferente?

CADU – Sim, diferente...

CAZÉ – Ah, já sei... Tu tá é com medo da concorrência, né?

CADU – Não é isso, não. Nada a ver!

CAZÉ – E é o quê, então?

CADU – Ah, tu sabe!

CAZÉ – Sei de nada, não!

CADU – Então fica sabendo agora, véi!

CAZÉ - Do quê?

CADU - O que é MEU ninguém vai ficar metendo a mão por aí, não, sacô!

CADU chega junto de CAZÉ e beija na BOCA dele com um puta TESÃO.

SEXTA PARCELA

CADU – O cara era mó filé, né?

CAZÉ – Só achei meio bizonho quando ele pediu pra gente mijar na cara dele enquanto ele gozava.

CADU – Aquilo não foi nada, véi... Já me pediram pra fazer cada coisa cabulosa que, se eu sair contando por aí, neguinho vai achar que é papo de noiado da cabeça!

CAZÉ – Sério???

CADU – E eu faço é mesmo! Posso até sentir nojo, mas eu faço. Quem manda é o cliente, véi... Principalmente quando o cliente paga bem que nem esse carinha que a gente saiu hoje.

CAZÉ – Nooossa, mano! Nem acreditei quando ele abriu a carteira e tirou todas aquelas “onças” de dentro. Fazia mó tempão que eu não sentia o cheiro de dinheiro, me esbaldei...

CADU – Se tu topar de novo, eu até posso descolar uns outros programinhas assim...

CAZÉ – Eu TOPO!!!

CADU - Topa mesmo?

CAZÉ - Mas com uma condição...

CADU - Qual?

CAZÉ - Só faço se for junto contigo!

CADU – Porra, desse jeito não vai dar pra tu ser um michê profissa, né?

CAZÉ - E por quê não?

CADU - Fica botando mó banca aí, só quer fazer se for do teu jeito... Pensa que ser garoto de programa é como passear no shopping? Que vai dar pra ficar escolhendo o produto que vai comprar, é? No WAY, brow! Aqui, o produto é você!

CAZÉ – Eu sei que o buraco é mais embaixo...

CADU - E tu não imagina o tanto que esse buraco é fundo e arrombado, véi!

CAZÉ - Acho que já deu pra mim sacar como as coisas funcionam nesse teu mundinho de "é dando que se recebe"... E eu tô pronto pra encarar as feras, os leões e, principalmente, as ONÇAS!

CADU – Jura mesmo que tá pronto?

CAZÉ – Sem JUROS!!!


















FIM
de
ESTOQUE



PS: A montagem desse texto teatral só pode acontecer com a prévia autorização do AUTOR da obra.

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