sexta-feira, 26 de outubro de 2007

“Les Éphemères"

“[...] O mundo explode ao nosso redor... as geleiras derretem, os oceanos sobem, as ilhas de nossos sonhos logo ficarão submersas... E continuamos analfabetos do sentimento.”




Pois é, criatura transilvânica...


E não é que eu mexi os meus pauzinhos (OoOps!) e consegui, nessa quarta passada, assistir “Les Éphemères”, do Théâtre du Soléil, com a direção poderosíssima de Ariane Mnouchkine...


A sessão extra tava concorridíssima, os mais nervosos e desesperados saindo na unha, tinha fila da fila de espera... iPOD? Sim, EU posso TUDO, brow! Hehehe...


E o que falar de tudo aquilo, hein?


Foram sete horinhas do mais puro teatro. Um pouco longo demais para a minha vértebra cuidadosamente alongada.


Mas valeu muuuito a pena...


No final, vc tem a impressão de que nem viu o tempo passar...


E o TEMPO talvez seja a personagem central desse primoroso espetáculo, servindo como pretexto pra se falar dos momentos cotidianos, da delícia que é curtir intensamente aqueles instantes que deveriam ser eternizados, mas que passam desapercebidos na maioria das vezes...


Sabe aquela hora que vc vê a chuva cair pela janela e acha tudo um saco?


Daí vc tá com quem se ama, tomando um chazinho de jasmim...


E nem precisa ser de jasmim, pode ser de erva cidreira mesmo, ou qualquer outra bebida, não importa...


Esse instante é tão comum, tão simples, tão prosaico, mas é justamente essa simplicidade que o torna uma delícia de ser vivido.




E nem precisa tá no hotel mais caro de Manhantan, ou estourando o seu American Express Personalité nos arredores da Champs-Elysées, ou até mesmo partir com o amor de sua vida em um tour exótico para, sei lá, Dubai, vai, ou qualquer outra bizarrice do gênero...


O que vale é o olho no olho, o cheiro de quem se ama, a simplicidade do momento...


Ou a certeza de que tudo isso é único e intransferível, pq foi vivido, foi curtido, foi gostado e degustado...


E o resto?


O resto é viver e gozar, meu brother (foi titia Marta quem mandou, né!) Não rola por aí um clichezinho ‘eca’ que diz que “a vida é feita de pequenos instantes”?


Pois é!


Já me SINTO!


Cadê o meu protetor solar fator 75? Hehehe...




Detalhes sobre o espetáculo:

Cara... Montaram uma estrutura gigantesca no Sesc Bemlonginho. Uma mega-tenda, com um formato de palco que mais parecia a Sapucaí. CHAPEI com várias coisas!!!


Tinha um tiozinho comandando toda a trilha sonora ao vivo, o nome da figura é Jean-Jacques Lemêtre... O cara tocava cada instrumentos, dos mais simples aos mais exóticos... Beeem exóticos, eu diria.


E encantador. Quem viu o cara sabe que Papai Noel existe!

E os cenários? Eles eram montados em estruturas móveis, que deslizavam e rodopiavam por toda a tenda, entre os olhos curiosos de uma platéia embevecida...


Ponto pra riqueza de detalhes de cada objeto cenográfico. Show de cenografia merrrmo, simples e rica. Não aquela riqueza ostensiva, cafona, afetada, deslumbrada, Barra da Tijuca, Alphaville...


Mas uma riqueza que prima por cada pequeno detalhe.


A cozinha com sua pia cheia de louças sujas, a água fervente no fogão, o tapete persa da sala, os peixinhos beijoqueiros no aquário, o quarto com a cama beliche, o cobertor com desenhos do Snoopy, a areia da praia, a fogueira em noite de luau, o almoço de domingo...


Tava tudo lá, minuciosamente revelado.


E as interpretações dos atores do Théâthe du Soleil?


Dos mais velhos até as crianças, tudo era muito verdadeiro. E ainda dizem que Teatro é a arte da mentira.


A Juliana Carneiro da Cunha é uma deusa, dona absoluta do palco, tava total, inteira, não tinha reservas, travação, posicionamentos intelectuais...


Enfim, uma atriz de verdade, que te enche de tesão, te pega de jeito pela garganta...


Daí até parece com aquele comercial de cartão de crédito que a Marília Pêra diz que é a LÁGRIMA.


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E o meu coração fazendo beicinho pra não se derreter, os olhos pedindo um Moura Brasil. E nem colírio resolveu meu caso quando veio a história da Sandra...


Ou Samuel, o transexual que desperta a curiosidade da criançada vizinha no episódio “O Aniversário de Sandra”.


E o episódio da Perle, a tiazinha centenária que pensava que tava grávida e que queria ir de qualquer jeito pra Mesopotâmia?


Quase desabei nessa hora... Pura magia.


A personagem foi interpretada por Shaghayegh Beheshti, que vale cada consoante do nome... Irrepreensível!


De repente, o meu olho lacrimejado cruzou com o de uma figura de olhos famintos, tipo made in Costa Amalfitana, que estava sentado ao meu lado (o pecado sempre por perto, pqp).


E a gente começou a chorar juntos, totalmente cúmplices, disfarçando o constrangimento, sentindo vergonha um do outro e pelo outro (saca vergonha alheia?)...


Mas era tudo tão puro, tão comovente, tão verdadeiro. Nunca vi aquela figura de olhos famintos antes. Talvez, a gente nunca mais se esbarre na vida (esqueci de pegar o e-mail, iPOD?).


Mas a gente nem precisou se devorar pra sentir a intensidade daquele verdadeiro banquete dos deuses (gente, como eu mudei... Deve ser essa minha dieta zero cal... Preciso voltar urgentemente aos meus velhos tempos de Hannibal Lecter... hehehe).


Por falar em canibalismo latente, a cada intervalo rolava lanchinhos pra aliviar lariquinhas incontidas, além de água perrier pra hidratar a pupila. Um intervalo maior foi dado, uma horinha mais ou menos e um jantar delicioso foi servido (pra quem descolasse 20 contos, com um vinho tinto, óbvio, pq até mesmo o deus devorador Dionísio, a diva-barraqueira Amy Winehouse e muazinho aki somos filhos de Zeus e apreciamos os prazeres etílicos).


E a moçada que faz a cena teatral de Sampa em peso lá...


No final, Juliana, todo o elenco e a Ariane ovacionadíssimos pela platéia, quase cinco minutos de aplausos, que não paravam...


Longa vida ao Théâtre du Soleil!!!





Segunda-feira, 22/10/07: palestra no Sesc Consolação com a Ariane Mnouchkine, do Théâtre du Soleil.

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Eu e a Musa Luciana Gonçalves, marcando presença, só pra não cansar o nosso perfume Dior.

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Frases ditas pela poderosa diretora:


“A primeira pessoa que eu penso em agradar quando totalizo um espetáculo é a mim mesma.”


“O artista deve ter consciência do seu potencial e acreditar nele. E não se deixar levar por opiniões que não lhe pertencem.”


“Acho a expressão ‘processo colaborativo’ muito intelectualizada. Prefiro acreditar que somos amigos muito a fim de ser feliz.”


“O artista tem que ter consciência do seu poder transformador. Nesses dias tão conturbados, essa postura é fundamental.”





Uma discreta e quase imperceptível Giulia Gan pergunta:


“o que te faz escolher um ator/atriz brasileiro(a), como a Juliana, para a tua trupe teatral?”



Ariane, com toda a sua simplicidade altiva, responde:


“quando convido um artista para integrar nossa companhia teatral, eu avalio a sua disponibilidade, a sua verdade, a sua emoção... E essas características não têm nacionalidade, são universais.”



Tomô, bela Giulia!



Bravo, Ariane! Bravíssimo!!!
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Um comentário:

Rosane Muniz disse...

Zenquerido,
esse seu blog está demÁs! Pena que não nos encontramos pra chorarmos juntos com o Soleil. Eu fui lá três vezes: um ensaio, um como público, outro como jornalista nos bastidores!! UAU!!! Se no palco eles são um show, você não sabe o tratamento no back-stage!!! Muito trabalho e todos igualmente lavorando! Sem proteções... mucho bom.
E Piaf! ? Vc já foi ao cinema?? Não perca esse show de interpretação!!!!!!!! Prepare o lenço!
Beijo enorme
Ro
Zane
Rosane Muniz