quarta-feira, 26 de março de 2008

Read My Mind

"Quero ser a cicatriz
Risonha e corrosiva
Marcada a frio
Ferro e fogo
Em carne viva..."




Aquela tarde de NOVEMBRO estava meio fraca.


Luka tinha tatuado apenas uma estrelinha no pulso de uma patricinha made in Oscar Freire. Um saco!


A patricinha gemia, se contorcia toda, parecia até que tava levando uma surra de cacete.


"Podia ter metido vara nessa putinha fresca", pensou Luka, completamente entediado.


Sem nada pra fazer, Luka pegou o seu i-Pod e foi curtir um pouco do The killers.

Começou a rolar "Read My Mind"...


"Puta som!", pensava Luka, enquanto viajava naquela canção incrível...


De repente, entrou no seu stúdio de tattoo um carinha meio estranho...


Ele carregava um capacete em uma das mãos, parecia ser mais um desses motoboys que sempre andam a mil por hora pela 23 de Maio.


E os olhos daquele carinha...
Olhos de LUTO.


Luka tremeu de medo por um segundo. Nunca tinha sentido o clima tão pesado ali em seu stúdio...


Sem deixar de olhar firmemente para Luka, o motoboy perguntou: "quanto é que você cobra para fazer essa tatuagem aqui?"


E o tal do carinha com o capacete na mão mostrou um desenho meio borrado, feito de caneta Bic, parecia até que tinha acabado de ser rabiscado ali mesmo.


"Quero esse desenho aqui no meu braço, do jeito que tá aí... Pago o que você me pedir, mas tem que ser exatamente assim", completou o tal do motoboy, num tom meio imperativo.


Luka quase não acreditou quando viu o tal do desenho.


Era o desenho de um CAIXÃO. E tinha um nome, uma data.

"Que troço mais esquisito", pensou o experiente tatuador.


Mas ele deu o seu preço: 150 pilas.


E o motoboy desenbolsou a grana na hora, três Onças ali, na lata.


Luka logo começou a fazer a tal da tatoo.


O carinha, sem largar o seu capacete, se sentou numa cadeira no centro da sala.

Mas ele não relaxou em nenhum instante, comtemplava apenas com olhos fixos cada movimento de Luka. Não disse nada, não piscou os olhos, absolutamente paralisado.


Luka finalmente terminou de fazer aquela tatuagem fúnebre. Nunca tinha tatuado um desenho tão feio, tão macabro. E olha que Luka não tinha começado ontem...

Era fera naquela arte, tinha anos de praia.


Mas o tal do motoboy não gemeu em nenhum instante, bem diferente da patricinha fresca made in Oscar Freire.


E, depois que a tatoo foi feita exatamente como ele havia pedido, o tal do carinha simplesmente saiu, totalmente calado, carregando o capacete em uma de suas mãos.


Ele olhava extasiado para a sua nova tattoo, como se fosse um troféu, a sua mais nova medalha de ouro.


Luka nem ligou para o cara, era só mais um que entrava e saia de seu studio, exibindo uma tattoo qualquer...


E Luka limpou a agulha do seu aparelho de tatuar. Mas aquele sangue demorou a sair. Era um sangue VIVO, bem diferente dos olhos daquele sinistro motoboy.


Luka não acreditava em Deus, anjos ou demônios. Mas ele se benzeu mesmo assim.




"Bem-vindo ao clube, meu caro Robson!"


O motoboy desempregado Robson Pereira Granja, de 26 anos, disse, em entrevista na tarde desta terça-feira (25), que a morte do segurança José Adriano Menezes de Souza, amante de sua mulher, era uma questão de honra. “Essa é a minha honra. Sou homem”, afirmou. José Adriano tinha 27 anos quando foi assassinado com cinco tiros em 21 de novembro de 2007. Na ocasião, ele já namorava outra pessoa. O segurança havia rompido com a mulher de Robson meses antes, depois de descobrir que ela era casada. Eram por volta das 16h30, quando dois homens que chegaram em um carro azul entraram no prédio do ambulatório do Hospital São Paulo e um deles atirou na vítima.

Segundo a polícia, o crime teria acontecido depois de o suspeito ter descoberto, em julho, que sua mulher mantinha uma relação amorosa com José Adriano. Os dois haviam trabalhado juntos no Hospital do Rim e Hipertensão, ela como faxineira e ele como segurança. Ambos teriam sido transferidos depois de serem flagrados no banheiro da instituição.

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