segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Vamos pra Babylon???

Mal tinha começado a amanhecer e Denise ainda estava sentada na sua poltrona em frente aquela enorme JANELA de vidro do seu apartamento com vista aberta para toda a Vila Madá.

Uma quase manhã de um Janeiro desfocado e a BÍLIS de Denise ainda nem havia dado as caras pra trocar uma idéia com ela.

Sempre foi assim, Denise enfiava o dedo na GOELA e se permitia VOMITAR até encontrar uma ponta qualquer do seu VAZIO impreenchível e gozar daquele desconsertante PRAZER de olhar bem na cara de si mesma.
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Denise curtia provocar a sua BULIMIA existencial, mas a BÍLIS dela nunca chegava antes do SOL surgir lá no fundo da paisagem de sua janela blindada pra estragar toda a festa com as suas cores fortes.
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E Denise NÃO gosta de cores fortes.

Ela curte cores frias, bebidinhas geladas e SALIVAS abaixo de ZERO.
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No seu som tocava “É Proibido Proibir”, aquela mesma do pai do Moreno.

Já era a enésima vez que aquela canção se repetia, ensurdecendo as paredes fantasmas daquele prédio antigo na Heitor Penteado.

O som, óbvio, sempre no TALO...

Mas Denise não ouvia nada, estava surda, muda, fora de si.

Do seu COPO sedento se derramava aquela cerveja importada que Denise sempre apreciou sem a menor moderação, cerveja já totalmente QUENTE, melhor ainda, pois VERÃO combina com CALOR...
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E ela estava SÓ naquele quase dia...

Quer dizer, sozinha não, pois Amelie – a sua cadelinha com temperamento de FELINA – lambia com seu típico olhar blasé toda a cerveja quente derramada no assoalho.

Na imensa estante de sua sala, vários livros do Bourdieu.
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No seu laptop, algum pedaço daquilo que será a sua tese de Pós-Doutorado sobre teledramaturgia tupiniquim.
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Nas gavetas do seu criado-mudo, as traças comiam “A BURCA”, a peça teatral que ela mais gosta daquele seu amigo dos velhos tempos da PUC e que tem insistido ultimamente na insana idéia de levá-la pra um ritual do SANTO DAI-ME em pleno Lençóis Maranhenses no próximo CARNAVAL.
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Mas Denise odeia carnaval, odeia a Vai-Vai, isso lá é nome de Escola de Samba, que coisa mais deprimente, vai-vai pra onde, ô, cara-pálida???

E se ela odeia a tal festa da CARNIFICINA, não é propriamente pela festa em si, mas é que a Quarta-Feira de CINZAS sempre chega após o último bloco de colombinas cheiradas e Denise não quer ser CREMADA.

Ela quer ver o seu corpo em DECOMPOSIÇÃO, porque na natureza tudo se TRANSFORMA e Denise não é uma Fênix mas nem por isso ela deixa de ser MUTANTE.


Lá FORA, bem no alto da paisagem ao fundo da janela blindada, um AVIÃO rasgava o céu de São Paulo.

Foi quando Denise desejou estar dentro daquela aeronave e que um pássaro qualquer entrasse pelas turbinas dele, forçando uma aterrissagem em pleno Tietê.
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Já era quase MEIO-DIA e Denise se permitiu morrer por algumas horas de um sono mortificado. Mas ela só tinha 27 anos e acha muuuito CLICHÊ morrer aos 27, todo mundo já morreu aos 27, que puta falta de originalidade morrer aos 27...

Não, deixa pelo menos os 37 anos chegar, pois todo mundo deveria morrer antes dos 40, Denise sempre acreditou nisso.
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Irritada com aquele surto repentino de Retorno de SATURNO, ela bebericou mais um GOLE de sua cerveja quente.
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No som, já não tocava mais a música do nosso Caê devorado pelas BACANTES do Uzyna Uzona.
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Mas era Zeca Baleira que agora estourava os tímpanos da vizinhança de Denise, que não se atrevia a reclamar de absolutamente nada, pois é melhor deixar a fera mansa no seu canto ouvindo “De tudo provar Champanhe, caviar Scotch, escargot, rayban Bye, bye miserê Kaya now to me O céu seja aqui Minha religião é o PRAZER...”.

“Vamos pra Babylon???”, perguntou o tal Baleiro da canção estourada.
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Denise tentou pensar na proposta, mas sua cabeça doía muito, é melhor pular essa parte, fica pra PRÓXIMA, caro Zeca!
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E o céu da janela blindada, pra variar, se mostrava poluído, tanto quanto o tal rio das marginais paralisadas.
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Fazer o quê, né?
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A tal cidade infinita que Denise escolheu se perder sempre foi assim mesmo, afundada na mais degradante das poluições.
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Então é melhor acender uma FUMAÇA logo pra completar aquele clima perfeitamente “transilvânico”, pensou Denise.
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E por que não abrir a janela totalmente, hã?
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Foi isso que ela fez, Denise ABRIU a sua janela blindada e, por alguns instantes, ela se escancarou de braços ABERTOS prum mundo fechado, como um Cristo Redentor pra turista fotografar com suas máquinas digitais compradas no Magazine Luiza.
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Depois daquele surto messiânico, Denise respirou aquele ar IMPURO e seus olhos ressacados se permitiram poluir por quase um dia inteiro...
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Foi quando Denise olhou pro relógio da parede ao lado e já era finalzinho de tarde, pois o tempo não perdoa ninguém, nem os infeliZes...
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Naquele rápido instante, Denise já não tinha mais a menor dúvida: ela era SIM uma mulher completamente POLUÍDA..
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Um comentário:

aldous disse...

q isso? odisseia de um dia?
fbr