quinta-feira, 17 de abril de 2008

Partículas ELEMENTARES

Vi ontem esse filme dirigido pelo Oska Roehler, com a atuação deliciosamente absurda do Moritz Bleibtreu, que inclusive faturou o prêmio de Melhor Ator no Festival de Berlim.
O filme é cheio de flash-backs, tem uma acidez, um humor cáustico, às vezes debochado mesmo... Mas é incrível, gostoso de se ver.

E o Moritz, hein? Que puta ator... Bem bom de se apreciar numa telona!

Achei “Partículas Elementares”até um pouco semelhante a um outro filminho tão excitante quanto este, um tal de “Mistérios da Carne”, que tb tem um protagonista completamente compulsivo por sexo e um outro totalmente nerd. Mas em “Partículas Elementares” a pegada ganha contornos bem, digamos, familiares.


Pois é... Esse filme tb aborda aquela temática pra lá de óbvia, uma coisa já mais que explorada e revisitada pelo cinema, pela literatura e pela dramaturgia em geral: o tal dos conflitos que envolvem a difícil relação familiar.


Saca aquelas tretas mal-resolvidas entre pais e filhos, o filho querendo comer a mãe, Complexo de Édipo pra cá, Complexo de Jocasta lá e toda a mitologia greco-romana no divã? Pois é... O filme tem essa vibe.


A partir do reencontro de dois irmãos por parte de mãe, o filme 'denuncia' seres extremamente carentes, que sempre precisaram do colo da mãe... Mas ela sempre tava pelo mundo, dando pro primeiro maluco que cruzasse o seu caminho.

E essa falta da mãe se faz presente na existência equivocada de seus dois filhotes mesmo depois 'adultos'. Equívocos esses que se manifestam em posturas e comportamentos bastante extremados. Seja no muito, seja no pouco, os dois personagens centrais caminham em pólos opostos.


Um dos irmãos é + um daqueles típicos escritores frustrados, que dá aula em um colégio cheio de gatinhas apetitosas, que adoram fazer a linha “ao mestre com carinho”. E ele é um cara completamente desestruturado emocionalmente, com comportamentos que beiram o absurdo.

Ele é capaz, por exemplo, de botar um pouco de sonífero na mamadeira do filho só porque o bebê não pára de chorar. E ele já tá beirando os 40 anos e todo dia toca uma bronha como um típico adolescente cuzão.


E entre uma punhetinha e outra, o cara passa por uma crise fodida. Mas ele quer mudar de vida, parar com essa obsessão por sexo... Ele quer se enquadrar naquela felicidade dos contos de fada, ser fiel a uma mulher apenas, esquecer o passado de devassidão.

Daí ele encontra uma mulher + pirada do que ele num campo de nudismo que reúne atividades tântricas (tinha que ser). E eles passam a freqüentar clubes de pegação, swing, vão até o limite do prazer. Mas tudo sempre tem um limite, né? E os dois vão ter que encarar os seus. Sem chance de saída, de fugir pela esquerda!

Já o outro irmão é totalmente nerd, o gênio da matemática, com as suas teorias chatas que tomam todo o seu tempo e não deixam vaga pra mais nada. E ele vai encarando aquela vidinha entediada, sempre fugindo dos seus desejos, dos seus instintos...

E nessa batida imperfeita, ele quase perde a mulher que sempre o amou de verdade, que sempre esteve ali do seu lado, desde a infância. Mas nem mesmo o ato sexual conseguiu ter uma brecha na vida dele, talvez pq a liberdade sexual da mãe sempre foi encarada por ele como uma coisa promíscua, sem um fim que justificasse os meios.

Enfim... Grilos e encanações de um matemático legalmente nerd.

No final, eles acabam se achando dentro de toda aquela confusão que eles mesmos aprontaram. Se bem que, dentro desse achar a si mesmo, pode rolar até uma vibe, digamos, esquisofrênica.


Ah, esse filme é uma adaptação do best-seller homônimo de um tal de Michel Houellebecq. Eu nunca li nada desse cara. E nem tô a fim de ler. Já ando acupadíssimo com as minhas leituras atrasadas e não vou arrumar mais uma, né.

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