segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Levanta a cabeça, infortunada!!!

Lembro que quando fiz um curso sobre Tragédia Grega com a tia TEREZA MENEZES (a nossa querida teatróloga, dramaturgista e autora do imprescindível “Ibsen e o Novo Sujeito da Modernidade”), na hora do intervalo sempre rolava uma “zuação básica” entre eu & as meninas (Luciana Gonçalves, Bárbara Ismênia, Rita NiZZan, entre outras coleguinhas de oficinas teatrais) com essa marcante FRASE dita por HÉCUBA, a rainha vencida de um reino outrora conhecido pela grandeZa dos seus muros intransponíveis.

“Levanta do chão DURO esta cabeça, infortunada! Apruma teu PESCOÇO! Não mais existem TRÓIA nem rainha!”

E, deixando qualquer brincadeirinha de lado, devo diZer agora que me amarro muitíssimo nesse teXto toda veZ que leio, dos argumentos apresentados pelas personagens, do confronto entre a mater dolorosa Hécuba com uma impassível Helena de Tróia, além do sofrimento atroZ de Andrômaca e o desespero da perturbada Cassandra juntamente com todas aquelas mulheres aviltadas pela guerra.

Sei que grandes diretores braZucas já a encenaram mas, até seXta passada, eu nunca tinha visto nenhuma montagem – nem aqui em Sampa, nem em qualquer outra cidade do nosso planetinha pré-aquecido – dessa clássica tragédia do tio Eurípedes, o grande mestre em “exacerbar os sentimentos”.

Vi e gostei muitíssimo do que pude constatar pessoalmente na montagem assinada pelo diretor Zé Henrique de Paula, em cartaZ ali no Teatro Sérgio Cardoso.

“Quantas razões eu tenho para CHORAR nesta calamidade a PERDA de meus filhos, meu marido, minha querida PÁTRIA... Ai de mim!”

Tudo bem que eu até já tinha algumas informações de que, nessa peça, o diretor transpôs toda a tragédia de Hécuba e cia. pros campos de concentração nazista da Segunda Guerra Mundial, que o elenco aprendeu alemão e trálálá...

Mesmo assim, essa montagem conseguiu me surpreender, me tocou profundamente, não sei se por causa de minhas raíZes que tb tem um pé fincado naquelas bandas largas do Oriente Médio...

De qualquer forma, o que eu vi em CENA foi um puta trabalho de encher os olhos (literalmente), coisa de gente GRANDE, que sabe o que faz, com uma entrega visceral de todo o elenco, totalmente dentro da proposta do espetáculo...

Resumo da MELOPÉIA: “As Troianas”, do Núcleo Experimental, tá INCRÍVEL, uma peça teatral do tipo imperdível, muito FODA mesmo!!!

“Aproximo do chão meus joelhos doloridos e golpeio a terra com as mãos antes fortes fechadas!”

No início dessa montagem, rola uma projeção de uma cena entre Poseidon & Palas Atena no melhor estilo “Casablanca”...

Logo depois, as tais “troianas” – que nessa montagem, como já disse antes, são JUDIAS – chegam descarregadas como animais do vagão de um trem e enfrentando toda a perversidade de soldados nazistas.

E, mesmo sendo totalmente falada num idioma que não dominamos, essa peça consegue nos comunicar fluentemente porque trata de uma temática universal, trata da dor da PERDA.

E a compreensão fica melhor ainda pra quem já leu essa tragédia, dá pra identificar facilmente cada uma de todas aquelas viúvas cativas que surgem em CENA.

“Levai-me, conduzi-me na marcha FORÇADA. Comecemos a triste JORNADA até nosso CRUEL cativeiro!”

Ah, a cena da caiXinha de música, com uma das atrizes dançando balé no vagão, é realmente de se tirar o chapéu...

Tb a cena do menininho que faz o Astiânax, filho do Heitor com Andrômaca, é muito comovente...

O menino parece ter saído daquele filme “A Lista de Schindler”, sei lá, um filme que eu vi com o coração faZendo biquinho pra não desaguar no choro (sou EMOtivo meeesmo, eu assumo meus defeitos, e totalmente trágico tb, buáááááá).

Portanto, leve o seu LENÇO com rendas de bilro que eu aposto que vc vai sair dessa peça meio desidratado de tanto lacrimejar.

Isso mesmo, rola uma CATARSE final, ou até mesmo uma reflexão fodida sobre a tal da INTOLERÂNCIA, essa porra devastadora que nos ataca diariamente e que só a percebemos quando torres siamesas são derrubadas por aviões-bomba ou quando guerras mundiais acontecem, espirrando sangue no nosso quintal.

Pois como diria o tal judeu da CRUZ: “perdoai-vos, Senhor! Eles NÃO sabem o que fazem!”

Ou sabem???

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