domingo, 19 de outubro de 2008

A Morte lhe cai BEM

SIM... Às vezes, a MORTE pode cair muitíssimo BEM!!!

Pelo menos foi o que rolou em "Assombrações do Recife Velho", peça genial da trupe Os FOFOS Encenam, que eu fui ver nesse fim de semana (pura sorte, nem sabia que era fim de + uma temporada).
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Acabou-se o que era
DOCE!!!
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E eu sei que a maioria das pessoas que está lendo esse meu comentário deve estar dizendo: "nooossa, Zen, só agora vc foi assistir essa peça que todo mundo já viu???"

É verdade!!!

Me lembro muito bem quando esse espetáculo entrou em cartaz lá naquele Casarão da Brigadeiro, o tal do Belvedere...

E que o povo pelejou horrores pra assistir, os ingressos se esgotaram num piscar de olhos, filas e + filas de espera, quem viu viu, quem não viu ficou na vontade...

Por isso mesmo, a trupe dos FOFOS resolveu dar + uma culher de chá e voltou com uma outra temporada do "Assombrações" em sua nova sede, que fica ali na Rua Adoniran Barbosa, lá praquelas bandas do Oficina, do Teatro Imprensa, do assombrado TBC, entre outros teatros da chamada "Off Broadway paulistana".
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Os FOFOS em CENA
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Eu já tinha escutado alguns comentários emocionados de quem viu essa peça lá no tal casarão...

Aliás, nunca ouvi ninguém falando que a achou + ou menos, os elogios sempre foram SUPERLATIVOS, teve gente até que me confessou que essa foi a peça da sua vida e quis me bater pq eu não fui ver antes.

Mas agora eu já tô salvo dessa TACA.

Fui no sábado passado e curti pra caralho!

Tb lembro que uma vez o livro "Assombrações do Recife Velho" caiu nas minhas mãos e eu nem dei muita importância...

Eu era um muleque e nem tava muito aê pra eXperiências intensas, verdadeiras, sublimes, transformadoras.
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Depois do tal Casarão Belvedere,
"Assombrações" fez temporada na nova sede dos FOFOS
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Li apenas metade do livro, mas deu pra pirar com algumas histórias do rico universo literário de Gilberto Freyre, com os seus fantasmas, almas penadas, diabinhos, exus...

Tudo escrito de uma forma vibrante, poética e eXtremamente sedutora.

Por isso mesmo que hoje, eu, um homem feito (hã???), não consigo compreender o que me deu na telha pra não ter lido esse livro até a sua derradeira página (livro esse que fazia parte da quase intocada biblioteca do meu querido e finado vovô Sales que, aliás, morava no Recife).

Mas vou me redimir desse PECADO imperdoável devorando esse clássico da literatura braZuca a partir de amanhã e nem um dia a mais.
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Gilberto Freyre entre suas memórias eternamente VIVAS
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E assim como no livro, a peça fala de Morte sim...

Mas vai muito + além: fala de MEMÓRIA.

A adptação teatral de Newton Moreno pra essa obra do Gilberto Freyre tb tem a fluidez envolvente do livro (aliás, Moreno arrasa, é um puta dramaturgo, todo mundo aqui já sabe que eu sou mó fã desse carinha).

A peça começa com o povo quase na entrada da Sede dos FOFOS, as personagens entram contando causos engraçadíssimos, caçando conversa com um e outro, o clima é de um típico folguedo nordestino...

O público então é conduzido pra uma cozinha onde tem uma velhinha fazendo doce enquanto escuta um rádio muito antigo.

E ela começa a contar as visitas que geralmente recebe de um pretinho que é o cão chupando manga verde com sal e vinagre de tão danado que é.
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Gilberto Freyre escreveu "Assombrações do Recife Velho" em 1951
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Depois o público é levado prum outro ambiente e vem uma verdadeira enXurrada de histórias de gente que vestiu o paletó de MADEIRA e partiu dessa pra pior, como é o caso da tal PERNA cabeluda que quebra o CABAÇO das moças com jeito de QUENGA e, tb, da divertida Dona Benvinda, a velhota fuXiquenta que não se cansa de morrer e voltar do além.

Daí vem um forró-bodó num outro espaço...

O Frei Caneca (logo ele???) se apresenta com a sua CORDA no pescoço como se fosse o apresentador de um Pocket TERROR ShoW...

A vibe agora é diferente, continua tudo muito envolvente, engraçado, mas tb rola momentos carregados de emoção, de uma coisa entalada na garganta, de tudo aquilo que não foi dito em VIDA.

E aquela cena da Nossa Senhora Aparecida pendurada de cabeça pra baixo, hein???

Muito MASSA, véio!

Aliás, os elementos cenógraficas dessa peça só contribuem pra riqueza de tudo que é contado pelos seus personagens.

A ROSA que voa pelo ar levada por dois balões, o doce de banana, o algodão no nariz do morto-vivo, toda aquela barulheira infernal, um furdunço da moléstia...

Tudo com gosto e cheiro daqueles CAUSOS que vc escuta dos + velhos em cada cantinho do Nordeste.
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"Todo mundo se seduz pelas imagens, metáforas e o imaginário popular do trabalho de Freyre"(Newton Moreno)
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E é isso: achei esse espetáculo MÁGICO.

E todo o elenco dos FOFOS Encenam é muuuito bom.

Por sinal, na minha sincera opinião, essa trupe reúne o melhor time de atores entre as cias teatrais com sede aqui em Sampa, pq eles sabem dosar talento, emoção, vigor e versatilidade.

Ah, só pra variar, eu como sempre sou escolhido pra ser ZUADO nessas peças com uma proposta meio interativa.

O tal do Frei Caneca, com sua longa batina, acabou com a minha ilibada reputação: me chamou de leiteiro, abilolado, CABEÇÃO (menino, era assim que neguinho me chamava quando eu era guri lá pras bandas largas do Rio Pindaré).
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"Que voltarei depressa
Tão logo acabe a noite
Tão logo esse tempo passe
Para beijar você"
(Para Um Amor no Recife)
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Aliás, diga-se de passagem, devo confessar sem pudor algum que EU adoooro o Recife.

Depois de São Luís (lóóógico), Recife é a capital nordestina que eu + amo.

Uma cidade lindíssima, fascinante, com uma cultura riquíssima que pulsa em cada uma daquelas inúmeras PONTES sobre os rios Beberibe e Capibaribe...

Seus becos e esquinas vibram ao som de seu maracatu, de suas cirandas, seu mangue beat, seu Galo da Madrugada e outros manifestações deliciosamente encantadoras, que te pegam de um jeito avassalador, te tocam a alma, numa experiência única, inesquecível.
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As Pontes da "Veneza braZuca"
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Me amarro no sotaque pernambucano, na sabedoria de seus senhores, no charme de suas senhoras, na sensualidade contida das moças bonitas da praia de Boa Viagem e no ar largadão de seus apetitosos surfistas...

E é um tal de 'visse' pra cá, 'que marmota é essa?' pra lá e vááárias outras eXpressões saborosas, além de um baita orgulho de ser nordestino (os pernambucandos adoram dizer que tem gente no Nordeste que pensa que é do Sudeste e todo mundo sabe de quem eles estão falando, esses mesmos que vcs estão pensando agora, mas que eu nem me atrevo e não quero entrar nessa boca de Matilde, HAHAHA).

Sem falar que tudo lá no Recife tem um cheiro de inocência meio disfarçada, que esconde uma doçura irresistivelmente SACANA, que te faz querer saber do que se trata e quando vc eXperimenta o TEMPERO pernambucano - em suas + variadas formas - quer se empanturrar até dizer QUERO muuuuicho MAIS!

Enfim, gosto muito do Recife!!!

Sempre que posso bato asas e me PICO pra lá!!!
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"Quem segura o porta-estandarte
Tem a arte, tem a arte
E aqui passa com raça eletrônico
MARACATU atômico"
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