sexta-feira, 20 de junho de 2008

"Eu te conheço, CARNAVAL!!!"

A frase logo aí acima é bem comum no lugar de onde eu vim.

Mas disso eu falo DEPOIS!

Primeiro, quero falar que ontem eu fui ver uma peça teatral beeem bacana.

Vi "Desconhecidos", que tá rolando logo ali, no Sesc Consolação, com o autor e ator maranhense Dionísio Neto e, tb, com uma tal de Simona Queiroz, (assim mesmo, Simona com A).

E todo mundo acha que eu sou bem íntimo do Dionísio, que somos amigos de infância e blábláblá. Simplesmente pq ele é maranhense como muá (origem francesa?). Mas, pra falar a verdade, só há pouquíssimo tempo soube que ele era de lá.
Claro que eu me lembro da gente já ter se esbarrado nos teatros, na Praça Roosevelt e em alguns inferninhos da vida...
Mas daí se ter uma intimidade só pq é da mesma terrinha...

Huuum... DESCONHEÇO tanta intimidade entre conterrâneos made in Lençóis... hahaha!!!


Uma vez eu até assisti uma palestra ministrada pela minha mestra e diva Marici Salomão, onde o Dionísio falou do trabalho dele. E que ele era conhecido como um dramaturgo que descontruia suas peças, que ele gostava de utilizar a metalinguagem, que ele era até considerado por alguns como "o Alexander McQueen da dramaturgia brazuca" (what?).

Daí a minha cabecinha surtada já começou a se perguntar: será esse tal maranhense uma espécie de Sarah Jessica Parker com aquele modelão verde-oliva incrível que ela apareceu numa première em Londres ou qualquer coisa nesse estilo? Huuum... Pirei, sabe!


Só ontem deu pra conferir pessoalmente um pouco da PEGADA dionisíaca (ops!). E, pelo que eu pude perceber, é uma pegada com referências pop, hype, cinematográfica... Ou seja, um patchwork bem costurado e cheio de momentos que me emocionaram e me fizeram gargalhar bastante.

Como todos já devem saber, "Desconhecidos" tá totalmente dentro dessa proposta metateatral em que o Dionísio vem se tornando um dos expoentes entre os dramaturgos brazucas.

Nesse clima pirandelliano e logo na primeira cena, Dionísio já entra conversando com a platéia e interpretando um ator carioquíssimo da gema podre do Leblon que fica sabendo que é estéril.
Só que a mulher dele, tb atriz, aparece logo em seguida com a notícia de que tá grávida.

Pronto! Foi estabelecido o conflito inicial. A trama segue... E uma das coisas que eu + curto nas pessoas é quando elas têm a capacidade de rir de si mesmas. Acho que esse é o grande barato da vida. É uma forma de, sei lá... de terapia, de exorcizar os próprios demônios, de afirmar a personalidade, de se aceitar realmente como é ou qualquer papo do tipo.

E é justamente isso que o Dionísio faz: tira onda de si mesmo interpretando um galã latino, do tipo que todo mundo diz que se acha a última carreira de PÓ mas que não passa de + um fodido do meio teatral e que, além do mais, tá puto da vida pq vai fazer uma peça esquisitona escrita por um tal de Dionísio Neto.

Daí vem uma penca de citações. E dá-lhe Zé Celso, Praça Roosevelt, Bortolotto, Pina Bauche, etc, etc e tal... Só que tudo isso rola num tom divertidíssimo, bem debochado (maranhensidades?).


Na outra parte da cena, Dionísio faz um nerd serial killer com mania de comer coração de mulheres uniformizadas. E a tal da Simona com A interpreta uma aeromoça que acabou de perder o emprego. O + bacana é que o nome da figura é Catirina, igualzinho ao da mulher 'prenha' que quer comer a lígua do boi no folclore maranhense.

Nesse ritmo até certo ponto vertiginoso, todos os elementos que vão aparecendo em cena estão bem amarrados, nada fica fora de órbita.
Muito pelo contrário, só acrescentam à pegada original desse espetáculo.
E, se no começo da peça a coisa é enxuta, do meio em diante tudo ganha uma dimensão absurda, surreal... Qualquer coisa pode, inclusive o improvável.

Mas isso não quer dizer que a peça é tipo aquelas presepadas teatrais onde o povo pira, viaja, surta e, no final, ninguém entende patavina.
Não! Isso definitivamente não rola em "Desconhecidos", pois o autor e ator maranhese capricha na dramaturgia, com uma trama bem desenvolvida e diálogos fluídos (às vezes cínicos, às vezes poéticos).
Eu até diria que essa trama 'dionisíaca' tem uma vibe meio hitchcockiana, meio Tarantino, meio Spike Jonze.

E é isso! Eu curti e afirmo: Dionísio arrasa em "Desconhecidos!!!

E a tal da Simona com A, hein?

Se alguém pensa que a tal da Simona Queiroz tá lá só pra fazer escada pro Dionísio, se enganou na linha Skol... Redondamente!

Muito boa essa tal de Simona com A.

Ficou óóótima no papel da aeromoça Catirina.

Só no bocão, carão, frescando o tempo todo.

Tipo da atriz que eu gosto, daquelas que se jogam de cabeça na proposta cênica.


SIIIM!!! Eu adoooro uma atriz que se permite em cena, daquelas que se o diretor pedir pra subir NUA naquela torre colorida da Paulista, lá vai ela sem medo de ser feliz.


Odeio atriz cheia de "não-me-toque pq eu fiz Cepetezinho".

CPT de cu é rola, filhinha!!!

É lógico que ninguém precisa seguir as técnicas "stanislavskiana" da Leila Lopes, né.


No mais, pode se jogar no Zé Celso que ele tem uns MANTRAS óóótimos pra quem quiser se libertar de tanta frescura e culpa católica.


Preciso dizer tb que o momento que eu achei + legal em "Desconhecidos" foi quando o FOFÃO apareceu do nada, todo serelepe, encantando todo mundo que tava lá.

E o Fofão surge em cena justamente no instante da peça onde o nerd psicopata resgata alguns traumas de sua infância, os seus fantasmas interiores que o acompanham desde sempre.

Achei incrível a utilização desse personagem tão lúdico num instante tão revelador do espetáculo. Como tb acredito que, pra quem é MARANHENSE, a dimensão dessa idéia que o Dionísio quis passar é infinitamente maior.

Lembrei até de minha infância (ando lembrando muito dela ultimamente aqui, será a tal crise balzaquiana, meu Zeus?).

O Dionísio até me perguntou se eu tinha medo de fofão. E eu respondi dizendo que, bem diferente da maioria das crianças do MA, eu até que NÃO tinha medo algum.

Não sei se pelo fato dos meus pais serem BATISTAS e, por conta disso, nunca terem reforçado na minha imaginação essas figuras da cultura, digamos, pagã. Eles sempre fizeram questão de me dizer que Papai Noel nunca existiu mas Cristo SIM.

Só que, apesar dos esforços dos meus queridos progenitores, no final de tudo acabei acreditando mesmo que tanto o Noel como o Cristo existem SIM e moram lá pras bandas do Polo Norte, pq aqui embaixo e abaixo do Equador, meu filho, só PECADO e BANANAS... Uêba!!!

E como tudo aqui tb sempre acabou em CARNAVAL, na minha infância eu queria mesmo era tirar a máscara do fofão e cair de cascudo nos moleques mascarados que não paravam de me chamar de QUALIRA.


Pois é... FOFÃO é quase uma instituição do carnaval maranhense.

Desde tempos imemoráveis, os foliões de lá compram metros e mais metros de chita (aquele tecido bem ordinário e barato) no Armazém Paraíba e mandam fazem uma espécie de macacão.

E na cabeça coloca-se uma máscara bem sinistra (pode ser com a cara do Bush, do Hugo Chaves, da Dilma, do cão chupando manga, etc) com um apito por dentro (esse itém é opcional).

Depois, é só se picar na folia e, óbvio, caçar confusão com quem aparecer pela frente, jogando pó de Maizena na cara dos outos (horrível!).

Daí vem a famosa frase "eu te conheço, carnaval", que já virou até machinha na voz belíssima de Alcione.

Geralmente, se diz isso quando o fofão te 'atenta' tanto e você acaba desconfiando que aquela criatura pegou no teu pé pq te conhece de algum lugar, é teu vizinho ou o teu ex-affair querendo vingança. Enfim, Pura 'nigrinhagem' de maranhense.

Se não entendeu nada, então vai lá em Sant Louis que, por sinal, neste mês de JUNHO, aquela ilha maravILHA anda com a MARÉ, ó, invadindo a praia... LITERALMENTE!!!


E eu aqui, curtindo este INVERNO froZEN!!!

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