quinta-feira, 15 de novembro de 2007

CorpOS CavernosOS

AbaiXo, alguns dados de minhas pesquisinhas pra peça “Corpos Cavernosos”, que já estou finalizando. E essa peça não fala estritamente de transexualismo, vai bem + além, fala de DESEJO.
Na verdade, o transexualismo em minha peça serve apenas como pano de fundo para a trama.
E eu tô adorando escrever.
Tah ficando incrível, pode apostar!
.

QUESTÃO TRANSEXUAL

De todas as manifestações da sexualidade, o TRANSEXUALISMO é, sem dúvida, aquela cuja a compreensão representa um dos maiores desafios teórico-clínicos.
..
O estudo do transexualismo nos obriga a repensar fundamentalmente as bases da construção da psicossexualidade e, conseqüentemente, a reavaliar o conceito de normalidade.
.
O sentimento de ser do outro sexo, que os transexuais afirmam possuir, é provavelmente tão antigo quanto qualquer outra expressão da sexualidade.
...
Da mitologia greco-romana ao século XIX, passando pelas mais variadas fontes literárias e antropológicas, encontramos relatos de personagens que se vestiam como membros do outro sexo, dizendo sentir-se como do outro sexo.
.
Aquilo que hoje – do século XX pra cá – é designado sob o termo de "transexualismo" não é próprio nem da nossa cultura nem da nossa época: o que é recente é a possibilidade de "mudar de sexo" graças às novas técnicas cirúrgicas e a hormonoterapia.
. .
O sofrimento psíquico do transexual - que pode levar o sujeito à auto-emasculação e até mesmo ao suicídio - se encontra no sentimento de uma total inadequação entre anatomia e identidade sexuada.
..
Essas pessoas manifestam uma exigência inflexível de adequação do sexo, seguida pela reivindicação de mudança do nome, e de retificação da certidão de nascimento.
..
Evidentemente, seria um grave erro acreditar que a etiologia da inadequação entre corpo anatômico e sentimento de identidade sexuada seja a mesma para todos aqueles que se dizem transexuais: a aparente semelhança entre os discursos manifestos pode camuflar uma grande diversidade de discursos latentes, senão recalcados, e falar do "transexual típico" é tão absurdo quanto falar do "heterossexual típico" ou do "homossexual típico".
..
Existe uma grande confusão no imaginário popular, mas também entre os próprios sujeitos que demandam a cirurgia corretiva, quanto a distinção entre o transexual, o travesti, alguns homossexuais e outros indivíduos que apresentam essa mesma reivindicação.
..
Muitos daqueles que se dizem transexuais reproduzem de maneira caricatural os estereótipos do homem e da mulher.
..
O pólo extremo desta perspectiva se confunde com uma caricatura trágica da mulher "fabricada" ao preço elevado de cirurgias estéticas que "feminizam" o rosto e que transformam, quando não mutilam, o corpo.
..
Acontece também que a deriva na psicose, ou o suicídio, seja a única saída possível quando o sujeito se dá conta do erro cometido – muitas vezes com o apoio dos "profissionais da saúde" – e da irreversibilidade do estado no qual se encontram: a viagem na "trans-sexual" não oferece passagem de volta.
..
No transexual não encontramos a dimensão fetichista presente no porte de vestimentas femininas, como é o caso do travesti: este último, ainda que possa ter a ilusão de que, usando roupas de mulher, ele ficará muito feminino, sabe muito bem que ele é um homem; não há discordância entre a anatomia e o núcleo da identidade sexuada.
....
Nas homossexualidades, cujas problemáticas de fundo são extremamente variáveis, a identidade sexuada do sujeito não é questionada.
...
Fato digno de nota: os transexuais recusam energicamente a serem confundidos com homossexuais. Segundo eles, sua sexualidade é, definitivamente, heterossexual, o que é coerente com a identidade sexuada que dizem possuir.
..

Desde a primeira cirurgia de redesignação sexual oficialmente comunicada – em 1952, na Dinamarca – temos assistido a uma verdadeira "revolução cultural". Tanto na Europa, quanto nos EUA, o fenômeno transexual tem tomado uma certa envergadura e, aos poucos, os transexuais têm sido mais ouvidos em suas reivindicações: em alguns países europeus as despesas médicas da cirurgia de redesignação sexual correm por conta do governo; os transexuais ocupam diversas posições na sociedade, publicam suas bibliografias, obtém a mudança de Estado Civil, etc. Na Holanda existem associações, consideradas de utilidade pública, que oferecem orientação aos sujeitos que se sentem transexuais, para que eles possam encaminhar melhor suas demandas. Além disto, estas associações garantem a (re)adaptação social do sujeito, através de contatos com a família dos transexuais e de visitas à seus locais de trabalho. Tudo isto reflete um esboço de reconhecimento social deste fenômeno ainda que um tal reconhecimento coloque profundas questões éticas e jurídicas.

No Brasil, a inexistência de uma legislação médico-legal específica sobre o assunto condena muitos transexuais a uma vida na clandestinidade. De fato, pode-se facilmente imaginar as dificuldades que estes sujeitos têm que enfrentar nas situações cotidianas mais banais – que, por vezes, terminam na delegacia de polícia – onde eles devem mostrar documentos de identidade nos quais a fotografia, o nome e o sexo estampados estão em total desacordo com a aparência daquele, ou daquela, que os apresenta. Muitas vezes, esta situação é agravada pelos resultados catastróficos de intervenções cirúrgicas fracassadas que deixam seqüelas irreversíveis. No plano teórico, não há um consenso entre os pesquisadores quanto a gênese do transexualismo, e as explicações variam desde uma forma de psicose até a um fenômeno ligado a fatores sócio-culturais. As propostas terapêuticas são igualmente diversas: terapia psicanalítica, comportamental, tratamento psiquiátrico e intervenção cirúrgica. Talvez, a única certeza que temos é a de que, em se tratando do transexualismo, toda prudência é recomendada e qualquer forma de ajudar a estes sujeitos, deverá levar em conta a particularidade do trajeto transexual de cada um.

Nenhum comentário: