quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Anjo Mutante

Queria tanto que meu anjo mutante me carregasse para o seu fel
Tão amargo como o mel da minha mandinga
Tão doce como o seu hálito de nicotina
Tão mutilado como as suas asas...

Tô pronto pra me contaminar com a sua cura irremediável
Prontíssimo pra me embriagar em sua saliva nociva...
Quero perder meu tempo com ele SIM
Desvendar o segredo de sua mutação
Entender porque esse anjo desceu do céu só pra me tentar
VAI DE RETO!!!

Mas não agora...
Ainda temos tempo pra perder com devaneios mundanos.
Os livros de Clarice
A poesia de Rimbaud
Os filmes do Almodóvar
A ousadia de Gael
Os textos de Genet
O toque de Chico
A masturbação de Madonna
A vibe da Björk...

Nesse cenário em decomposição
Fica bem mais fácil assumir todos os pecados
Que toda a humanidade não ousou cometer.

Daí a gente surta em nossos loucos delírios
Exagera o tédio do nosso cotidiano
Esculacha as nossas mais estúpidas aberrações
Mente sobre coisas que não fizemos por pura falta de imaginação.

E entre os espaços dessas nossas intermináveis reticências...
Ponto por ponto a gente se absorve de frente e verso
Sugando um a energia do outro
Vampirizando toda essa fome canibal
Cheios de Prosas e Prozac

Pois é o caos que nos seduz
O obscuro nos deixa bem mais fortes.
E chega de inocência!
Não temos mais tempo a perder nessa claridade sem foco.

Mas aí vem o medo.
Como somos covardes!

Ah, meu anjo caído...
Eu ainda apago essa tua luz em resistência
Ainda te aprisiono no meu planeta sem gravidade
Juro que ainda sufoco esse teu arzinho blasé.

Eu quero SIM escalar esse teu corpo cavernoso
Num rapel sem cordas e sem abismos
Alcançando esse teu topo, tua zona de perigo.
Declarando guerra dentro dessa tua Faixa de Gaza
Só pra você me atingir com a tua arma biológica.

E desnudado de minha absoluta falta de vergonha
O meu despudor se abre inteiro em minhas meias palavras

Meu anjo maldito...
Vou deixar teus olhos vendados
Te deitar no meu tapete mágico manchado de sangue cenográfico
Devorar esse teu fruto permitido até o caroço
Lambuzar o teu corpo com um hidratante Vitoria’secret
Depois estimular o teu tesão com a cera da vela do meu pavio curto.

Uvas, morangos, hortelã, gengibre
Galhos de arruda e pactos de pus
Tudo isso ao som de um tango sampleado
Aí eu vou e registro os nossos gemidos naquele meu gravador portátil
Só pra mostrar pros outros os sons dos nossos corpos fechados
Sons orgânicos...
BARBATUQUES
O Olodum que despertas em mim quando miro esse teu olhar ESCANDALOSO.

Por isso mesmo, exijo agora que você me fale tudo
Mas apenas o que eu quero ouvir
Mesmo que mintas, não importa
Eu também sei transformar mentiras em orgasmos múltiplos

Só que já é um pouco tarde demais
Tô viciado nesse teu ecstase
Na tua cápsula do medo
Esse teu Viagra misturado com Red Bull...

Minha Fênix Negra já está pegando fogo
Quer te pregar alguma peça...
Te tirar todas as peças...
Te escrever várias peças
Ser tua única estréia
Repetir várias vezes a mesma cena
Até chegar ao último ato de um ato falho
Tragédias, comédias...
Não interessa a máscara.
Só me apetece aplaudir calorosamente a nossa convincente atuação
Repleta de isonomias e fugas.

Depois de tanto me perder nesse teu paraíso achado
Desço até as profundezas do teu inferno astral...
Pois é lá que eu me salvo com a tua redenção
E finalmente te aprovo e provo
Que o céu não pode esperar
Quem quer morrer de amores urgentes agora.

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