sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Sem GELO

E já que algumas pessoas pediram, eu vou postar o teXto que fiz pro DramaMIX da versão 2007 das Satyrianas.
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Desenvolvi essa minúscula peça teatral tendo o DESEJO como base.
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E como nesse ano que já se finda a sacanagem política deitou e rolou com o caso Renan Calheiros e sua amante-jornalista, eu tb quis meter minha colher de pau oco nesse caldeirão de PUTARIA grossa.
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Como jornalista que sou, eu não parava de ler matérias falando de políticos flagrados em programinhas bizarros com garotas "de menor".
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Daí veio o gancho e o argumento pra peça.
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E o “Sem Gelo” até já ganhou uma versão MAIOR, pra uma encenação de uma hora, mais ou menos. A Bárbara, que nesse mix é apenas citada, entra em cena nessa versão ampliada que eu já escrevi. E ela é um elemento-chave, dá uma reviravolta na trama.
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Tb tem a Cacau, uma garota de programa, caso de Artur, que surge na história só pra engrossa + ainda esse caldo nada froZEN.
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Mas a versão ampliada, todo mundo só verá no palco (se alguém quiser montar, claro, hehehe).
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Agora, pegue o teu whisky cowboy e se embriague com a minha versão MIX. E tome Engov depois... hehehe!
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PEÇA em UM único GOLE

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CENÁRIO: um gabinete com artefatos em cores FRIAS. A ILUMINAÇÃO também é fria. TUDO nesse gabinete é muito frio. Com exceção de ARTUR, um cara radiante, SOLAR.
Bastante entretido e com uma certa EXCITAÇÃO, Artur manuseia um laptop. Entre os objetos que estão em cima da mesa de seu gabinete destaca-se uma GARRAFA de WHISKY 12 anos.
FERNANDO entra em cena meio servil, meio confuso. E ele traz em suas mãos um reluzente baldinho cheio de pedras de GELO.
ARTUR:
E aí, meu caríssimo assessor! Você já fez o que eu te pedi? Já contratou as gostosas?
FERNANDO: Hã... Quem?
ARTUR: As gostosas, Fernando! Não me diga que você ainda não contratou as gostosas pra minha festinha privê de hoje à noite!?
FERNANDO (totalmente confuso): Eu, eu...
ARTUR: E essas gatinhas têm que ser do jeito que eu mais gosto, beleza? Exatamente como nas fotos desse site aqui... (apontando para a tela do seu laptop) Bem peitudinhas, com umas bundas no ponto certo de levar bala... E todas elas têm que ter a idade do meu uísque!
FERNANDO: O quê? Idade do teu uísque? Peraí, Artur... Você pediu pra eu contratar umas garotas de programa. Não me disse que elas...
ARTUR: Pois eu tô te dizendo agora: eu quero garotas da idade do meu uísque!
FERNANDO (agitado): Artur, o teu uísque é 12 anos! Você ficou maluco? Doze anos não pode ser...
ARTUR: Já é, Fernando! Gatinhas da idade do meu uísque SIM. E tem que bater o maior bolão, mandar muitíssimo bem num boquete.
O CELULAR de Artur toca. Ele consulta o display.
ARTUR:
Porra, que saco... É a Bárbara!
Artur atende o celular e Fernando tenta escutar tudo enquanto folheia discretamente uma agenda.
ARTUR (com um carinho forçado):
Oi, amor!!! Eu... Eu tava pensando justamente em você agora. Era só saudade mesmo...(agora, meio gaguejando) Hã? Hoje à noite? Não, não! Éééé que... Hoje não vai rolar, meu amor... Eu tô cheio de compromissos! É... Campanha eleitoral, né? A gente tem que passar a mão na cabeça desse povo, comer aquelas gororobas nojentas... Mas Até que tá valendo a pena passar por todo esse calvário, sabe... A minha candidatura tá mais em alta do que o etanol. Essa eleição, Bárbara, é toda nossa! Pode deixar, querida... Eu vou mas eu volto... Só pra você, tá! Beijos, meu amor!
Artur desliga o celular como quem se livra de uma TORTURA.
FERNANDO (ainda folheando a agenda):
Como é que ela tá, Artur?
ARTUR (indiferente): Ela quem?
FERNANDO (fechando a agenda): A Bárbara! Não era com ela que você tava falando?
ARTUR: Ah... A Bárbara é aquilo que todo mundo já conhece: ela tá sempre bem, sempre linda, sempre por cima... Um porre!
FERNANDO: Escuta só, Artur: a Bárbara é a mulher perfeita pra estar do teu lado no dia da tua posse...
ARTUR: É! Você não deixa de ter razão... Mas bora deixar a Bárbara pra lá e falar sobre o que realmente interessa.
FERNANDO: Claro, os teus compromissos eleitorais de hoje...
ARTUR (cortando): Eu quero mais é saber das gostosinhas que você contratou, meu caro! E se não contratou, trate de contratar agora!
FERNANDO: Meu Deus... É inacreditável! Doze anos?
Artur pega a garrafa de whisky e passa a admirar o seu RÓTULO.
ARTUR:
Nem mais, nem menos... Apenas 12!
Artur coloca um pouco de seu whisky em um copo.
Fernando pega o balde cheio de gelo e oferece para Artur.
FERNANDO:
Tem gelo aqui, ó!
ARTUR: Não, gelo não! Prefiro cowboy mesmo... Dá mais tesão!
Artur bebe uma pequena dose de seu whisky.
Fernando fica apenas observando cada gole de Artur, sempre demonstrando uma certa perturbação.
Artur logo percebe a aflição de Fernando e, de uma forma propositadamente SACANA, oferece para ele a última dose de whisky que ainda resta no seu copo.
ARTUR:
Bebe uma dose aí, Fernandinho!
FERNANDO (seco): Você tá cansado de saber que eu NÃO bebo!
ARTUR: Você não bebe, não fuma, não cheira e nem fede... Olha só pra você, cara! Tá sempre assim, todo engomadinho, com essa carinha de nerd punheteiro... É o mais perfeito protótipo de workoholic que eu conheço. Tô começando a achar que tu se faz de morto só pra comer o cú do coveiro.
FERNANDO (irritado): Pára com isso, Artur! A gente ainda tem um monte de coisa pra fazer antes da tua eleição, cara. E não dá mais pra perder tempo!
ARTUR (sarcástico): Ah, Fernando... Pára com isso você, viu! Todo mundo tem uma tara, um... Sei lá, um vício qualquer. Me conta qual é o teu, vai? Fala, cara! Eu sou teu chegado...
FERNANDO (sério e cortante): Vício, Artur, é pra quem pode se dar ao luxo.
ARTUR: Ô, Fernandinho... Pra cima de ‘muá’ com esse papo?
FERNANDO: Eu NÃO tô aqui pra brincadeiras, Artur! Eu tenho metas pra alcançar... Metas que estão ligadas ao TEU sucesso político... (com uma ponta de resignação) o MEU sucesso, Artur, depende do teu!
ARTUR (ainda debochando): Então tá, meu caríssimo! Se é você quem diz isso, já tá dito e não se fala mais nisso. Mas eu confesso que vou ficar bem mais “sussa” no dia que eu te vê totalmente relaxado, chutando o pau da barraca mesmo e com uma boazuda aí do teu lado, fazendo você pirar o cabeção...
FERNANDO (incomodado): Menos, né, Artur!
ARTUR: Ah, por que menos? Você também é filho de Deus e, como se diz por aí, Deus é mais!
Artur volta a saborear o seu whisky cowboy enquanto Fernando continua altamente incomodado com tudo aquilo ali.
ARTUR (saboreando o whisky):
Nossa! Mas isso aqui é tipo primeira classe com destino ao paraíso... É quase um boquete feito por uma boca GULOSA e macia.
FERNANDO (controlando a sua irritação): Boquete... Você só pensa nisso!
Provocativo, Artur fala bem perto do ouvido de Fernando.
ARTUR:
Mas é claro, Fernandinho... Me diz se existe sensação mais louca do que a de sentir o teu PAU rasgando a GARGANTA de alguém?
Fernando engole em seco. E, cheio de cinismo, Artur volta a oferecer uma dose de seu whisky para ele.
ARTUR:
Pega aí, parceiro... Só um tiquinho. Experimenta, vai!
Profundamente perturbado, Fernando começa a folhear vários jornais, tentando mudar de assunto.
FERNANDO:
Você... Você já viu as manchetes de hoje? Todas elas dizem que você lidera com vantagem as pesquisas eleitorais.
ARTUR: Ah! Essa eleição eu já papei... Já me sinto no poder! Até porque não há nada mais maleável no mundo que o senso comum. Mas, pelo menos dessa vez, as massas estão escolhendo o melhor: EUzinho aqui!
FERNANDO: Que humilde você é.
ARTUR: Meu caro assessor, os bons NÃO precisam ser modestos. Concorda?
FERNANDO: Não! Mas eu até que concordo que a tua primeira posição nas pesquisas eleitorais merece sim uma boa comemoração...
ARTUR: Claro! E é por isso mesmo que eu vou comemorar hoje à noite com as gostosinhas que você vai contratar agora só pra mim. Essa festinha no iate vai, ó, bombar, Fernando!
FERNANDO: Iate?
ARTUR: Isso mesmo... Num iate! Imagina só: eu e as gatinhas boas de boquete no meio do mar, em plena luz da lua, na maior pegação...
FERNANDO: Artur... Isso NÃO!
ARTUR (cínico): Isso SIM!
FERNANDO (agitado): Cuidado, Artur! O mar... Ele, ele é sujeito a ressacas, tsunamis...
ARTUR: Jura?
FERNANDO: E isso, na política, já afogou peixes bem mais graúdos que você.
ARTUR: E eu lá quero saber quem botou fogo no mar, Fernandinho... Eu quero mais é comer peixe frito. E, de preferência, que esse peixe seja uma boa PIRANHA.
FERNANDO: Pensa bem, cara... Balada com garotinhas em alto mar nessa altura do campeonato? Olha só aqui, ó... (abrindo novamente a agenda) Tá lotadíssima! Você não pode...
ARTUR (decididamente cortante): Parceiro... Já tá tudo resolvido! Pára de ‘nhém-nhém-nhém’ e contrata logo essas gostosinhas, sacô!
FERNANDO (muito agitado): Artur, me escuta, pelo amor de Deus! Você é um cara superjovem e já tá com tudo na política. Qualquer vacilo, cara, pode afundar de vez o teu barco.
ARTUR: Qual é, Fernando? Às vezes eu acho que você é um marciano ou o oitavo passageiro, sei lá... Parece até que você é de um outro planeta, que entrou na política ontem. Fala sério, né? Qualquer ‘mané’ nesse país já tá cansado de saber que política e sacanagem tão ali, ó, se empanturrando na mesma suruba.
FERNANDO (extremamente agitado): Pára de ser inconsequente, Artur! Se te flagram comendo uma menina de 12 anos é cana na certa... E não vai ter pizza, lasanha, nem McFritas que salve a tua pele. Os caras da imprensa vão cair matando, vão detonar a tua carreira política e o caralho a quatro!
ARTUR: Caralho a quatro... Boa!!! Você me deu uma ótima idéia pra eu praticar com as gostosinhas...
FERNANDO (nervoso): São meninas de 12 anos que mal saíram das fraudas, Artur!
ARTUR (quase tendo uma crise de riso): Porra... Agora só tá faltando você me convencer que o grande culpado de toda essa putaria sou eu. Se eu abro a revista, tá lá a modelinho de 12 anos tirando onda de boazuda numa campanha de refrigerante light; Se eu ligo a televisão, aí me aparece uma típica “Lolita” com uma roupa de soldadinho de chumbo toda enfiada no rabo e cantando “Atirei o Pau no Gato” com voz de recepcionista de motel, né... E sou eu agora o grande lobo mau desse conto da Carochinha pornô? Fala sério, parceiro!
FERNANDO (a beira de uma síncope): Eu lavo as minhas mãos!!!
ARTUR: Fica frio, Fernando! Até porque eu não tô fazendo nada que alguém já não tenha feito antes. Eu tô apenas garantindo o meu futuro político.
FERNANDO: Futuro político, Artur? Saindo com meninas de 12 anos?
ARTUR: Pensa bem, vai! Essas gatinhas vão votar um dia, né mesmo? E é bom que eu já conquiste o voto delas desde cedo...
FERNANDO: Ah, não... Você é um caso perdido! Quer saber, Artur, eu, eu... Cara, nem parece que você é casado com a Bárbara!!!
ARTUR: Porra, Fernando... Vira e mexe, você tá sempre falando na Bárbara. O quê que a Bárbara tem a ver com esse nosso papo aqui, hein?
FERNANDO (bastante nervoso): É que... A maioria dos homens, Artur, com o mínimo de sensatez, daria TUDO por uma mulher como a Bárbara.
Artur se aproxima de Fernando e o ENCARA seriamente.
ARTUR:
E você, Fernando, daria QUANTO pela Bárbara, hein?
FERNANDO (atordoadíssimo): Hã?!?!
ARTUR: Vai, Fernando! Me diz quanto você daria pela Bárbara?
Por um instante, Fernando fica completamente PARALISADO, as palavras lhe faltam, ele transpira de nervosismo. Mas, logo depois, ele se esforça e consegue se recompor.
FERNANDO (bastante sério):
Olha aqui, Artur! Você não tá falando de uma qualquer, de uma dessas vagabundas que se compra por aí a 1,99... A Bárbara é a TUA mulher!
ARTUR: A Bárbara é só casada comigo e nada mais que isso, Fernando... Ela é neta de senador, tem toda uma tradição política na família, tem vários tios magistrados...
FERNANDO: Você não tem noção do que diz, Artur... É impressionante!
ARTUR: Eu tenho sim, Fernando... Você, por exemplo...
FERNANDO (agitadíssimo): Eu o quê?
Agora, Artur avança para cima de Fernando enquanto fala.
ARTUR:
Eu sei que você é doido pra dar uns ‘cata’ na Bárbara... E só não faz isso porque é um cuzão.
FERNANDO: Você pirou de vez.
ARTUR: Admite logo que você adoraria enrabar a Bárbara, vai! E que o teu maior sonho de consumo é meter vara na minha mulher até ela dizer quero mais!
FERNANDO: Isso é o cúmulo, Artur... O cúmulo!!!
Muito calmamente, Artur volta a saborear o seu whisky cowboy.
ARTUR:
Pois eu, se fosse você, nem pensava duas vezes... Eu mandava “bala” nela! (voltando a falar bem perto da orelha de Fernando) Pode pegar a Bárbara, meu brother... Eu dou a maior força! É... Pra mim, ó, demorô! Vocês dois até que combinam... Tem a mesma temperatura, beeem abaixo de zero. (falando num tom maliciosamente debochado) Mete nela, porra! Mas mete de leve, na manha, com o pau lavado e passado... Porque a Bárbara, meu caro... Huuum... Aquela dali é toda fresca, toda cheia de ‘não-me-toque’.
FERNANDO: Eu não tô acreditando no que eu tô ouvindo!
ARTUR: É... Pode crer nisso que eu tô te dizendo, meu caríssimo assessor! A Bárbara pode ser linda, elegantíssima, sofisticada... Mas ela é um GELO na cama... Nem fazer uma boa de uma CHUPETINHA ela se atreve. Ela já me disse várias vezes que acha isso muito seboso, que chega a sentir náuseas só de imaginar qualquer coisa em sua rica boquinha que não seja um BATOM importado. Como você pode perceber, caríssimo, ninguém nesse mundo se salva. Nem mesmo a nossa Bárbara.
Artur bebe todo o whisky restante em seu copo. Depois, ele joga o copo numa lixeira. Ouve-se o som do copo se espatifando.
FERNANDO (apontando para a lixeira):
Puta merda, Artur! Desse jeito, você vai acabar com todo o estoque de copos desse comitê!
ARTUR (apático): Ai, ai, os copos... Copos de vidro quebram, não é mesmo? E que diferença os copos vão fazer na minha vida, meu caro assessor? O que interessa mesmo pra mim é o próximo GOLE, viu!
Humilhado, Fernando pega a lixeira e começa a catar alguns cacos de vidro que caíram pelo chão, numa posição de total servidão.
Artur o observa com o seu ar sempre altivo e sacana.
ARTUR:
Vai fazer a faxina agora, nobre assessor?
FERNANDO (totalmente engasgado): Eu, eu... Eu só não quero que ninguém aqui se corte...
Artur se aproxima de Fernando, olha bem no fundo dos seus olhos e tira a lixeira da mão dele.
ARTUR (imperativo):
Sem faxinas por enquanto! Por que agora você vai pegar o telefone e cuidar logo da contratação das gostosinhas pra minha balada no iate, estamos entendidos?
Na seqüência, Artur entrega o reluzente baldinho com gelo para Fernando em troca da lixeira.
ARTUR:
E não esqueça que as gostosinhas têm que ter a idade do meu whisky...
FERNANDO (ainda engasgado com as palavras): Mas Artur... Eu...
ARTUR: Nem mais, nem menos que isso... Doze anos é a DOSE certa!
Absolutamente atordoado, Fernando pega algumas pedras de gelo do reluzente baldinho e as ESFREGA na GARGANTA.
Com um bocejo de total indiferença em relação ao seu assessor, Artur SAI de cena.
Logo depois, Fernando AVANÇA na garrafa de whisky 12 anos de Artur e bebe todo o seu conteúdo no GARGALO, quase como num boquete, engolindo até a última GOTA os RESTOS de um VÍCIO sufocado!
FERNANDO (entre a paixão e o rancor): Vai, Artur... Me derrete por dentro, vai! Eu quero matar a tua sede, Artur... Toda a tua SEDE!!!
BLECAUTE TOTAL
ZS

Um comentário:

VIADAGEM E A TRANSGRESSÃO POÉTICA disse...

Cara, é magnífico o jogo que você faz com as palavras e , até mesmo, o respeito que você tem por elas. Você quando escreve tem poder de transformar tudo ao seu favor. Amei o texto, amei as entrelinhas , o subtexto onde nada nem ninguém, nem o leitor ou o público é poupado, você transforma todos nós em iguais, pobres seres que chafurdam na vida olhando iguais chafurdando igualmente na vida. Parabéns!
Foi uma honra ter te conhecido ontem. Grande honra...
Ricardo
aguieiras2002@yahoo.com.br